Chega um momento da
vida adulta, depois de um ou dois tropeços, em que somos obrigados a refletir sobre as nossas escolhas afetivas.
Para um amigo de quem eu gosto muito, esse momento chegou por volta dos 35
anos, quando ele percebeu que estava sofrendo – de novo – por uma mulher que
não gostava dele. Num momento de lucidez, ele se deu conta de que havia um padrão no seu comportamento,
e que ele levava, invariavelmente, a um pé na bunda. Na dele.
Começo com essa história corriqueira para falar daquilo que chamam de “dedo podre”, a capacidade que têm algumas pessoas, homens e mulheres, de escolher sempre o parceiro errado. Há muitas pessoas assim. Elas não têm sexo, idade ou tipo físico determinado. Nem o temperamento delas é parecido. Em comum, têm apenas essa terrível inclinação a se ligar emocionalmente a gente inviável – que, por uma razão ou por outra, é incapaz de manter com elas o tipo de relação que elas gostariam de ter.
Eu não sei como esse dedo aparece, mas tenho algumas suspeitas.
Ao contrário do que
se diz, minha primeira impressão é que não se trata apenas de azar. Se o primeiro
namorado da Fulana era um malandro mentiroso,
o segundo um psicopata ciumento e o terceiro ainda está apaixonado pela
ex-mulher, não
dá para culpar a falta de sorte. Fulana, claramente, não sabe
escolher. Continua sendo uma coitadinha,
mas a responsabilidade é dela, não do destino.
Suspeito que por trás de cada escolha equivocada exista sempre uma alma carente. É óbvio, né? Quem precisa demais da atenção dos outros não consegue julgar ninguém direito. A pessoa se agarra ao primeiro que passa, cai na primeira conversa que escuta, se apaixona por qualquer um. Falta critério a quem precisa demais de carinho. Gente assim torna-se extremamente vulnerável. Vira uma presa fácil dos truques, desmandos e caprichos dos outros.
Além da carência, há o velho problema da autoestima. Ou da falta dela. Quem gosta de si mesmo fica melhor sozinho, quem gosta de si mesmo procura gente que lhe faz bem, quem gosta de si mesmo busca uma pessoa especial, porque sente que merece. Quem não se gosta faz tudo ao contrário.
Tempos atrás, uma analista me disse que a pessoa que a gente escolhe diz muita coisa sobre nós. Ela conta, sobretudo, como vemos a nós mesmos. Faz sentido, não?
Alguém que se envolva sistematicamente com tranqueiras está informando ao mundo que não se acha melhor do que aquilo. Gente que se deixa maltratar e humilhar anuncia aos quatro ventos que não tem respeito por si mesmo.
O contrário também é verdadeiro. Quando alguém que conhecemos aparece ao lado de uma pessoa alegre, altiva e generosa, quando exibe uma relação apaixonada e sólida, nossa impressão sobre ele ou sobre ela cresce. Nem poderia ser de outra forma. Diga-me com quem dormes e te direi quem és. Ou, pelo menos, como te imaginas.
Antes de encerrar, eu
queria deixar claro que não acho que
escolher seja fácil. Sobretudo no mundo em que a gente vive. Há gente
demais à nossa volta, as opções são muitas e a confusão é enorme. Ao contrário do que diz aquele juiz de
futebol na televisão, as regras não são claras. Mas, se a vida não oferece
garantia contra enganos, ela nos dá alguma inteligência
para perceber quando eles estão se repetindo. Isso nos permite tomar
providências.
Por ter vivido e observado, sei que “dedo podre” tem cura. Não é como aquela dor no baço da adolescência, que simplesmente passa. Carência, falta de autoestima e ausência de ambição sentimental (“pra mim, qualquer um serve”) têm de ser ativamente combatidas. Com ajuda externa, se necessário.
O amigo a quem eu me referia no início desta coluna fez anos de análise para colocar seus sentimentos no lugar. Demorou, mas um dia percebeu os fatos elementares da vida amorosa: não existe amor sem reciprocidade, não há vida comum sem afinidade, o desejo não compensa sofrimento. Com isso, o dedo podre dele ficou no passado. E o seu?
Para
ilustrar a chamada “Síndrome do dedo podre”,
encontrei esse relato que é no mínimo engraçado... “Se não fosse cômico, seria
trágico!”
Aos 13 anos me apaixonei pelo pegador da
escola... Zé era desejado por todas as meninas... E, claro, me ferrei bonito...
Passei anos sendo o fim de festa dele... Se não pegasse ninguém, ficava
comigo... Que sina!!!
Anos depois veio o Flávio... Meu primeiro
namorado... Eu louca, apaixonada e burra... poucos meses depois o gatinho me
trocou por uma gordinha que tinha chegado de Brasília...
Aí veio o Porto. rsrsrsrs... Ele não sabia se
me queria ou queria a ex-namorada... Foi um fica-não-fica sem fim... Que
sofrimento...
Depois dele me apaixonei pelo Marcus... Ah
como eu gostava dele... E ele também gostava de mim... e de todas as mulheres
que dessem bola pra ele... humpft...
Com o Márcio eu tinha certeza que seria
diferente... Foi 1 ano e meio de tormento namoro. O cara tinha ciúme até do meu
irmão... Terminei antes que ele me pedisse pra usar uma burca...
Aí teve o Oliveira... tirando o fato de que o
cara era um vagabundo profissional e aos quase 30 anos ainda vivia às custas da
mãe (e de mim... rsrsrs) ele era o namorado perfeito... Cansei da falta de
ambição e da inércia do gatinho e decidi partir...
Com o Silva foi diferente. Cara responsável,
trabalhador... Foram anos de relação... Só terminou porque eu fiquei exausta de
tentar me relacionar bem com as três ou quatro personalidades que ele tinha...
Mas não fiquei só muito tempo... Logo depois
do Silva eu encontrei o Costa... A melhor definição para esse namorado quem deu
foi uma amiga lá de Natal: Come fava e arrota caviar... Em um ano e meio o cara
deixou um rombo imenso na minha conta bancária e os meus cartões todos
bloqueados...
Decidi, então, dar uma chance a um antigo
apaixonado... Até me mudei pra muito longe pra poder ficar com o cara... Eu
acreditava que com ele, sim, eu seria feliz... Mas a felicidade acabou quando o
vi invejando minha maquiagem e meus vestidos e minhas calcinhas... Pô, ninguém merece...
De volta pra casa conheço o Sampaio... Foram
três anos juntos... Mas ele decidiu casar... com outra... e eu dancei!!!
Há um mês atrás terminei uma relação de um ano
com Beto... Gente boa demais... Demais mesmo... Gente tão boa que tinha outras
duas mulheres (que eu soube) além de mim... E teve o disparate de me dizer:
minha filha, o que eu posso fazer, eu sou abençoado, sou um cara muito
querido!!!
Eu mereço...
Depois do calvário acima descrito eu tenho que
admitir: a culpa é minha!! Minha não... Da síndrome do dedo podre...
Essa é uma síndrome que acomete homens e
mulheres desavisados... Os cromossomos responsáveis pela formação dos seus
dedos indicadores atrofiam, causando o famigerado problema... Daí, quando o
cidadão atinge a maturidade, a doença se apresenta. É muito simples, mas
infelizmente não tem cura... Médicos americanos pensaram que amputando o dedo
contaminado o problema estaria resolvido... Mas a síndrome toma conta da
extremidade mais próxima e os sintomas se repetem... Em Cuba, engenheiros
genéticos tentam há anos e, em vão, descobrir uma maneira de utilizar células
tronco para regenerar os cromossomos responsáveis por essa síndrome maligna...
Os Russos acreditam que pequenas doses de vodka no leite das crianças
acometidas pelo problema seria a solução definitiva para o caso... Mas as
crianças usadas para testar tal tese se tornaram alcóolicos irrecuperáveis já
na adolescência... A experiência foi, então, abortada!!! Aqui no Brasil, já que
ninguém teve ideia nenhuma pra eliminar a síndrome, criou-se o lema: enquanto
eu não acho a pessoa certa, vou me divertindo com as erradas...
Eu, cá do meu canto, já tentei de tudo: passei
pimenta na ponta do dedo; engessei; lavei o dedo com xixi de cobra; coloquei na
boca do sapo; parei de apontar; passei a apontar pro lado oposto... Não teve
jeito, o bendito dedo prevalece e, quando eu vejo, a desgraça tá feita...
Se algum de vocês tem o mesmo problema que eu,
por favor, deixem aqui suas considerações... E se conhecem uma cura,
compartilhem ela comigo... Sonho com o dia em que, finalmente, meu bom senso
vencerá meu dedo podre e eu verei entrar em minha vida um cara legal e sem
defeito de fabricação!!!
Você tem dedo podre? - Ivan
Martins escreve às quartas-feiras na revista Epoca
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“Não dependa de ninguém na sua vida, só de Deus, pois até mesmo sua sombra o abandonará quando você estiver na escuridão.”