"O pertencimento a uma sociedade
envolve um ponto paradoxal em que cada um de nós é obrigado a abraçar
livremente, como resultado de nossa escolha, o que de todo modo nos é imposto
(todos nós devemos amar nosso país, nossos pais, nossa religião)." -
Slavoj Zizek - Como ler Lacan
Somos a imagem e semelhança de nossos pais, carregamos através do nosso código genético toda a carga de experiências vivida por nossos ancestrais até aquele ponto da evolução que culmina no que somos. Esta é a verdadeira senda do karma (conjunto de ações dos homens e suas consequências), é a grande oficina na qual vamos aprimorar nossa jornada evolutiva. Somos o espelho do karma que tramita através de toda a cadeia genética que a nossa ancestralidade representa, somos o resultado das experiências desenvolvidas, dos padrões de condicionamento, doenças e habilidades carreadas até nós, a partir de nosso código genético, que nos impregna das informações com as quais precisamos transformar em nossas vidas.
Talvez o seu jeitão, não seja genuinamente seu,
quem sabe seja o jeito do seu avô agir dentro de você, do seu pai, ou da sua
mãe. Quem é você de fato? Quem esta por trás das suas reações emocionais? O que
você esta fidelizando dos programas familiares que sua vida esta reproduzindo?
A hereditariedade através da genética de nosso
corpo, nossa mente, e nossos corpos sutis irão reproduzir as memórias ali
construídas através da experiência que viaja no tempo e na evolução animal até
chegar a você e a partir de então você é
responsável por dar continuidade à melhoria desta jornada através da
experiência pessoal. Neste sentindo, gosto de pensar o termo zodíaco, do grego
zoo – animal – e diaco – ciclo, usado para descrever os ciclos astrológicos e
que o seu sentido maior é este, ciclo animal, ou melhor, a cadeia pela qual evoluímos através dos ciclos de vida, de uma
poligenesia, a própria cadeia do karma.
Nossos pais são a coagulação desta viajem no tempo,
que é continuada através de nós e será continuado por nossos filhos, seguindo
um ciclo interminável. Alhures, nossas personalidades são estruturadas a partir
destas memórias, que formaram os nossos padrões reativos e os centros do habito
que regerão nossos comportamentos e o nosso modo de ação na vida. Esta é a
estrutura mental, o ego, onde toda a sua estrutura “do este sou eu” é arquitetada, como uma engrenagem que vai por sua
historia em movimento.
Segundo a alquimia, a vida na matéria é formada
pela união dos elementos que compõe a sexualidade do pai, fogo e ar; e da sexualidade da mãe, água e terra, que ira compor de acordo com o grau de cada
elemento neles organizados a nova vida, que é o resultado da tríade com o divino, para formar a
trindade, o terceiro elemento, o filho.
Esta união dos opostos, macho, fêmea, é a força que coloca a vida na forma em
movimento, multiplicando a criação de Deus. O filho, o terceiro elemento,
resultado dos dois, que vem da união dos elementos pai-mãe, será constituído a
imagem da soma das informações biopsicoespirituais que vão constituir a
personificação destes opostos nesta nova pessoa que dará continuidade a
história.
Para os alquimistas este movimento de
energia na serpente mercurial (DNA), permeia a aura humana com as energias
peculiares do pai e da mãe. Onde, são descarregadas (upload) e ficam em
movimento, alimentando os comportamentos e as reações emocionais. O nosso
passado solar, a memória do pai dentro de nós, e o nosso passado lunar, o
passado da mãe dentro de nós é o arquivo que compõe o acervo de modelos que
iremos reproduzir na construção de nossos papéis e comportamentos.
Os padrões que regem nossas histórias se movimentam
numa escala onde podemos dimensionar e compreender os resultados de nossas
projeções em nossas vidas, e sabermos o grau em desvio que devemos corrigir de
nosso padrão comportamental. Este desvio para os gregos da antiguidade clássica
era chamado de pecado; e seria como
o desvio da luz, a refração. Logo, o pecado, seria o desvio original do desejo.
O desejo primevo, original, o anseio do ser. A este estado de desvio os
terapeutas de Fílon de Alexandria chamavam de pathos, raiz da palavra
patologia, doença, que para tratar e reorientar o desejo em desvio, o pecado,
ou ainda, a doença, era preciso que a pessoa passasse por um processo de “terapéia”,
ou terapia, que era um conjunto de técnicas para uma práxis de vida em harmonia
com a essência, o ser, com a consciência do EU SOU, o self.
Este é um processo de totalidade, de gnose e
individuação, o ser entra em comunhão com outros aspectos de sua consciência e
elas se integram e se harmonizam como a orquestração de uma polifonia da alma.
Quando somos capazes de amadurecer e transcender aos papéis e as fases da vida,
passamos a ter uma consciência ampliada e o resultado disto é uma capacidade para reger os acontecimentos da
vida sem se perder neles tendo um poder muito maior de realização e satisfação
pessoal, este estado de visão, trás em si uma assertividade e uma
resiliência maior para encarar os momentos da vida, e sermos bem resolvidos.
Este processo
de cura consiste em abraçarmos nossos pais e nossos ancestrais e nos
reconciliarmos com eles, numa grande confraternização e entendimento interior.
Integrarmos-nos ao poder de suas experiências e forças arquetípicas, acolhê-los
em seus ferimentos e tomar como missão pessoal a cura e a transcendências
destes antigos padrões arquetípicos familiares que vem viajando no tempo.
Como diria uma canção de um poeta de minha terra,
Belchior: “nossos ídolos ainda são os
mesmos e as aparências não enganam não”. “Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, nós
ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. – nos queixamos deles
mas fazemos as mesmas coisas, somos motivados pelas mesmas coisas, podemos
começar um grande trabalho interior curando
o nosso “pai interior”, nossa “mãe interior”, percebendo como
funcionamos e mudando nossos modelos de ação e hábitos, para integrarmos o que
há de melhor de nossa herança ancestral.
por Paulo Rubens Nascimento Sousa