Qual o impacto real da insônia em nossa sociedade?
A insônia afeta, hoje, cerca de 30% dos idosos. Uma igual percentagem de adolescentes e adultos já foi afetada, em algum momento de suas existências, por este problema, com duração superior a três noites. “Indutores do sono” são utilizados em até 50 a 90% dos pacientes internados em instituições hospitalares. Tais “indutores” são utilizados habitualmente por 6 a 8% dos adultos com mais de 40 anos, nos EUA; já seu uso eventual é computado por até 35% dos adultos, nos mesmos estudos.
A categoria ansiolíticos-indutores do sono é hoje uma das três mais prescritas em todo o mundo, ao lado dos analgésicos e dos antibióticos. Por outro lado, vários estudos, dentre os quais, um da Sociedade Americana de Oncologia evidenciam que a insônia e o tempo de sono inadequado são alguns dos fatores capazes de afetar de forma adversa e significativa a mortalidade, a médio e longo prazo.
Aspectos Gerais Sobre Sono e Insônia
O que é o sono?
Nos dizeres de Popper, “sono é uma inconsciência natural, que se repete sem que saibamos exatamente nem mesmo o seu porquê”. O sono - e seu presumido companheiro, o sonho - fazem parte do dia-a-dia de todo ser humano “normal”, seja ele pobre ou rico, bom ou mau, infortunado ou transbordante de felicidade: uma doce e impressionantemente “democrática” função fisiológica. Objeto de interesse de cientistas e de poetas, o sono constitui um fenômeno elementar da vida, elemento do ciclo circadiano, e uma conquista fundamental na evolução onto e filogênica, para o repouso orgânico, reconstituição bioquímica e reelaboração de processos subconscientes. Trata-se de um evento complexo, cíclico, composto por múltiplas etapas, e mediado por componentes ativos e passivos, como veremos adiante.
O que é a insônia?
A insônia constitui queixa (primária ou secundária) extremamente comum na prática clínica, podendo ser referida como uma “dificuldade para dormir, manter ou conciliar o sono”, ou, simplesmente, “dificuldade em dormir bem”; conceitualmente, sua definição consiste em alterações na latência, no tempo total e/ou duração dos diferentes estágios do sono. Dois fatos são hoje especialmente dignos de nota no tocante à insônia: primeiro, sua definição atual inclui o conceito de “qualidade do sono”, e não mais apenas a “falta de sono”; segundo, a insônia representa, não uma doença em si, mas um sintoma patológico. A insônia fere o conceito de “bem-estar físico, psicológico e social” que define a Saúde segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e chega mais comumente ao consultório do generalista, do cardiologista, do gastroenterologista e do neurologista, do que o do próprio psiquiatra.
Assim, o termo insônia, na prática, pode corresponder aos seguintes casos:
- Despertar freqüente durante o sono
- Sono “não” restaurador
- Despertar precoce
- Tempo curto de sono total
- Outras queixas afins
Quais os eventos mais comumente associados à insônia?
A insônia predispõe à fadiga, depressão, acidentes de trabalho, distúrbios do humor, queda do desempenho profissional e afetivo-sexual. Por vezes, a insônia pode mesmo estar relacionada, quer como causa quer como efeito, a descompensações cardiovasculares ou psicóticas. Outras vezes, a insônia representa um sintoma, que na verdade denota um problema orgânico (úlcera péptica, esofagite de refluxo, cefaléia, reumatopatias, estresse agudo, DPOC
(doença pulmonar obstrutiva crônica), descompensada, efeitos farmacológicos adversos, surtos psicóticos, síndrome do pânico, lembranças da noite passada ...).
(doença pulmonar obstrutiva crônica), descompensada, efeitos farmacológicos adversos, surtos psicóticos, síndrome do pânico, lembranças da noite passada ...).
Como classificar a insônia?
1) as ocasionais, de duração geralmente entre uma e sete noites;
2) transitórias, com duração de uma a três semanas;
3) as crônicas, com padrão persistente e repetitivo de distúrbio do sono, e duração superior a 3 semanas.
As duas primeiras são ditas agudas ou reativas, sendo via de regra precipitadas por eventos específicos ou modificações abruptas do modo de vida, em pacientes até então “normais”, e têm melhor prognóstico. No terceiro grupo, há grande prevalência de patologias orgânicas subjacentes, inclusive uso/abuso de drogas (10-15 % dos casos), pelo que se recomenda especial cautela antes de qualquer prescrição medicamentosa, nestes pacientes.
Existe ainda uma série de outros distúrbios do sono, dentre os quais a insônia primária (temporária ou permanente) e as parassonias. Este último grupo engloba situações as mais diversas, tais como a mioclonia noturna, a apnéia do sono, as acroparestesias, a enurese noturna, o sonambulismo, os automatismos do sono, e a síndrome das pernas inquietas (anxietas tibiarium), dentre outras. Finalmente, existem distúrbios secundários do sono, que não são situacionais nem psicóticos, mas neurológicos em sua origem: a degeneração olivo-ponto cerebelar, a dissinergia cerebelar (síndrome Ramsey-Hunt), a paralisia supranuclear progressiva (síndrome Parker), a coréia de Huntington, a epilepsia noturna, o infarto pontino com envolvimento dos núcleos da rafe ... Felizmente, todos bem raros na prática cotidiana!
Existe cura para a insônia?
Sim, pode-se dizer que a grande maioria dos casos de insônia representada pelas insônias transitórias e/ou de curto prazo - são passíveis de tratamento eficaz, adotando-se medidas adequadas de higiene do sono, e eventual terapia farmacológica. O uso da terapêutica medicamentosa, se bem ponderado e ajustado, é seguro e não precisa ser temido, constituindo antes um valioso coadjuvante, em mãos hábeis. A tendência atual, neste caso, é a de empregar agentes os mais seletivos, e pelo menor tempo possível. E importante destacar que, mormente nas insônias ditas “crônicas”, a terapia deve se concentrar na identificação de fatores etio e fisiopatogênicos. Outras vezes, quando a insônia situacional se repete com frequência exagerada, pode ser útil apoio psicoterápico, no sentido de transpor eventuais “barreiras” e de “canalizar” forças que possibilitem o desenvolvimento/reestruturação do “eu”. Vale lembrar o aforismo “cada caso é um caso”, e que, em psicodiagnóstico, existem poucos achados baseados em métodos complementares, sendo mais importantes os sintomas, a história clínica, e o “feeling” do médico...
Quando, usar drogas na terapia da insônia?
Medidas de higiene do sono
- O sono deve vir naturalmente, sem esforço. Não “brigue com o travesseiro”, ao invés disso, busque algo para relaxar até que se sinta sonolento.
- Deite-se na cama somente o tempo devido. O tempo normal do sono varia entre 6 a 8 horas, nos adultos.
- Evite ler, ver TV ou telefonar na cama.
- Se possível, evite ruídos irregulares ou ambientes barulhentos.
- Temperaturas ambientais amenas também possibilitam um sono mais confortável.
- Deitar e levantar sempre à mesma hora ajudam a fortalecer um ritmo de sono regular.
- Um lanche “leve” e alguns chás (cidreira e maracujá) podem ser úteis.
- Evite, porém, os excessos e o uso de chá preto, café ou refrigerantes à base de “cola”.
- Ao deitar relaxe e pense em coisas amenas; isole-se dos problemas do dia-a-dia.
- O álcool pode aliviar o estresse e acelerar o sono, mas muitas vezes o perturba no final da noite e no dia seguinte.
- Elevar a cabeceira da cama pode ser muito útil em alguns casos.
- Verifique se o colchão é adequado ao seu peso e se está em boas condições.
- Exercícios físicos e caminhadas, quando moderadas e regulares, também são úteis.
- Nunca utilize remédios para dormir sem receita médica.
- Busque, quando preciso, o medicamento mais seguro e que melhor preserve o ritmo normal do sono.
- Sem orientação médica, alguns remédios podem causar dependência e prejudicar a sua saúde.
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“Não dependa de ninguém na sua vida, só de Deus, pois até mesmo sua sombra o abandonará quando você estiver na escuridão.”