A
compulsão alimentar atinge homens e mulheres
O
transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) foi descrito pela primeira
vez nos anos 1950. Contudo, sua elevação à categoria diagnóstica apenas ocorreu
em 1994, quando foi incluído no apêndice
B do DSM IV, com critérios provisórios para seu diagnóstico. Trata-se de
uma síndrome
caracterizada por episódios recorrentes de compulsão alimentar, sem qualquer
comportamento de compensação para evitar um possível ganho de peso.
Incertezas quanto a seus parâmetros diagnósticos como caracterização da quantidade
de alimentos ingeridos, duração de um episódio de comer compulsivo, ou mesmo o
valor da perda de controle sobre a ingestão alimentar, tornam difíceis uma
homogeinização de um grupo sindrômico. Desta forma, estudos epidemiológicos
podem revelar diferentes dados de caracterização da população portadora deste
transtorno. Isto reforça a necessidade da manutenção de estudos para avaliação
desta patologia.
Como eu sei se sofro de compulsão
alimentar?
Estudos
demonstraram variabilidades consideráveis no comportamento alimentar de comedores compulsivos tanto durante os
episódios de compulsão alimentar como nos intervalos. Este comportamento
foi descrito como caótico diferindo dos indivíduos portadores de bulimia nervosa (BN) e obesos sem TCAP (Grilo,
2002). Os portadores de TCAP apresentaram baixos relatos de dietas restritivas
quando comparados a pacientes com BN, que alternam entre compulsões e
restrições alimentares. Os episódios compulsivos variavam quanto à hora em que
costumam ocorrer com perda de controle, a hora sem esta perda e/ou perda de
controle sem o consumo de uma grande quantidade de alimentos (Grilo, 2002).
Além
disso, a
compulsão alimentar também é acompanhada por sentimentos de angústia subjetiva,
incluindo vergonha, nojo e/ou culpa. Alguns autores afirmam que um
comedor compulsivo abrange no mínimo dois elementos: o subjetivo (a sensação de
perda de controle) e o objetivo (a quantidade do consumo alimentar).
Há um consenso geral no aspecto subjetivo da compulsão para seu diagnóstico,
contudo, há controvérsias em relação ao aspecto objetivo, quanto ao tamanho e à
duração de uma compulsão. Esta incerteza é refletida numa definição
imprecisa
da grandeza de um episódio de compulsão alimentar, sobre uma quantidade que é definitivamente maior do
que a maioria das pessoas comeria e, além disso, seu critério de duração também
é polêmico. Diferentemente da bulimia nervosa, onde uma compulsão é
claramente concluída por comportamento purgativo, no TCAP, não há uma
terminação lógica; consequentemente, a duração tem sido designada num período
de duas horas, uma solução claramente insatisfatória (Stunkard, 2003).
O
TCAP pode ser distinguido da BN em alguns pontos. Os portadores de TCAP costumam apresentar
índice de massa corporal (IMC) superior aos portadores de bulimia nervosa
(Geliebter, 2002). Além disso, a história natural da BN geralmente revela a ocorrência
de dietas e perda de peso, enquanto que os comportamentos prévios do
TCAP são
mais variáveis (Striegel, 2001).
Assim, pacientes com BN mostram maiores níveis de restrição alimentar
comparados aos portadores de TCAP (Grilo, 2000).
Há
evidências de que pacientes com TCAP ingerem significativamente mais alimentos
do que as pessoas obesas sem compulsão alimentar (Goldfein,
1993). O TCAP pode ocorrer em indivíduos com peso normal e indivíduos obesos. A
maioria tem uma longa história de
repetidas tentativas de fazer dietas e sentem-se desesperados acerca de sua
dificuldade de controle da ingestão de alimentos. Alguns continuam tentando
restringir o consumo de calorias, enquanto outros abandonam quaisquer esforços
de fazer dieta, em razão de fracassos repetidos. Em clínicas para o controle de
peso, os indivíduos são, em média, mais obesos e têm uma história de flutuações
de peso mais acentuada do que os indivíduos sem este padrão (Spitzer; 1993).
O
estresse é um fator que pode levar ao aumento das compulsões alimentares. Durante
situações estressantes, o cortisol é liberado estimulando a ingestão de
alimentos e o aumento do peso (Gluck, 2001). Estudo realizado por Geliebter et
al. demonstrou que pessoas obesas têm
uma capacidade gástrica maior do que as pessoas com peso normal, o que poderia
limitar a quantidade de alimentos ingeridos e de saciedade. Segundo o mesmo
autor, desconhece-se a existência de um transtorno alimentar que tenha sido
predisposto por uma grande capacidade gástrica (Geliebter, 2002).
Estima-se
a prevalência em TCAP numa dimensão variada, em parte devido à variação das
definições de compulsão (Stunkard, 2003). Estimativas recentes de prevalência
do TCAP na população americana indicam que 2% a 3% dos adultos em amostras
comunitárias são portadoras do comer compulsivo. Entre os pacientes obesos que procuram tratamento clínico para perda de
peso, os índices de prevalência variam de 5% a 30% (Grilo, 2002;
Sptizer,1993). No
Brasil, Appolinário (1995), Coutinho (2000) e Borges (1998), encontraram uma
prevalência entre 15% e 22% em pacientes que procuravam tratamento para
emagrecer. Entre os pacientes que realizaram a cirurgia bariátrica,
esta prevalência pode variar de 27% a 47% (Waldden, 2001; Smith,1998).
Aproximadamente 20% das pessoas que se identificam como possuidoras de
compulsão alimentar possuem diagnóstico de TCAP (Stunkard, 2003; Napolitano,
2001)
Em
termos dos componentes
psicológicos do transtorno, os pacientes com TCAP possuem autoestima
mais baixa e preocupam-se mais com o peso e a forma física do que outros
indivíduos que também possuem sobrepeso sem terem o transtorno
(Zwaan;1997) O
comportamento alimentar no TCAP é caracterizado pela ingestão de grande
quantidade de alimentos em um período de tempo delimitado (até duas horas), acompanhado
da sensação de perda de controle sobre o quê ou o quanto se come. Para
caracterizar o diagnóstico, esses episódios devem ocorrer pelo menos dois dias
por semana nos últimos seis meses, associados a algumas características de
perda de controle e não acompanhados de comportamentos compensatórios dirigidos
para a perda de peso (Spitzer ,1993; Apa,1994).
Quem tem compulsão alimentar, também
costuma, durante a compulsão:
Comer
muito mais rapidamente que o normal
Comer
até se sentir desconfortavelmente “cheio”
Comer
grandes quantidades de comida mesmo sem fome
Comer
sozinho por se sentir vergonha
Sentir
repulsa por si mesmo, depressão ou muita culpa após ter comido excessivamente
Qual a causa?
Qual a diferença entre o TCAP e a Bulimia
nervosa?
Pessoas
com Bulimia Nervosa (BN) também sofrem episódios de compulsão alimentar, mas
depois provocam o vômito, tomam laxantes ou remédios para emagrecer, se
exercitam em excesso ou passam longos períodos em jejum tentando “compensar” as
calorias a mais. Porém, é importante lembrar que 10% das pessoas com bulimia
nervosa acabam parando nos comportamentos compensatórios e preenchendo critérios
para o diagnóstico de TCAP.
Como é o tratamento?
O
melhor tratamento parece ser a Terapia cognitivo-comportamental associada ou
não a medicamentos. É parte essencial da terapia cognitivo-comportamental é a análise de como o quadro surgiu e o que está mantendo-o ativo.
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