O amor patológico tem origem na relação da mãe com o filho e em sua disponibilidade para suprir as necessidades emocionais da prole em situações estressantes, principalmente em casos de separação.
A pessoa que experimenta o amor patológico dirige toda a sua
atenção à pessoa amada, desdobrando-se em cuidados e gentilezas. Esse
comportamento desencadeia uma postura obcecada.
Controle e dependência
"Nossa
experiência clínica tem mostrado que a pessoa com amor patológico presta cuidados ao parceiro, mas com o intuito de obter afeto, sem respeitar
as necessidades e interesses do outro, muitas vezes com atitude crítica quando
não recebe o esperado, contrariamente ao conceito de cooperatividade, que
inclui ajuda desinteressada, tolerância e empatia social", diz Eglacy.
O
seu estudo mostrou que pessoas que
sofrem de amor patológico também têm
dificuldade de estipular metas e de se manter focado nelas. "Isso
ocorre porque o foco principal de sua vida é manter o parceiro sob controle,
porque necessita da sua atenção", diz Eglacy. As principais estratégias
utilizadas para controle são ligações telefônicas, seguir o parceiro,
interrogar sobre as atividades dele, ser extremamente atencioso para com as
necessidades dele e provocar ciúme.
Há
quem diga que o medo é a essência desse
amor. A pessoa foge da sensação de isolamento tornando-se parte de outra.
Alguns estudos mostram que as reações
químicas observadas no cérebro daqueles que vivenciam o amor patológico
seriam muito parecidas àquelas encontradas
em pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), uma
alteração de comportamento que faz com que a pessoa tenha pensamentos persistentes de medo e ansiedade. Para aliviar o
mal-estar, ela costuma realizar tarefas ou gestos repetitivos, como se
desdobrar em cuidados dirigidos à pessoa amada.
Tudo indica que a disponibilidade emocional da mãe em situações estressantes, principalmente separações, é o meio pelo qual a criança aprende a perceber e a se relacionar com o mundo.
A maioria dos pesquisadores, no entanto, defende que o amor patológico se assemelha à dependência por drogas ou álcool. A pessoa experimenta uma sensação de abstinência quando está longe da pessoa amada, gasta muito tempo e energia em cuidados, abandona atividades para cultivar esse amor, sua dedicação exagerada traz problemas para a pessoa que ama e também para a pessoa amada.
Descargas biológicas
Um
estudo verificou que, independentemente da cultura, a reação cerebral dos
apaixonados é a mesma: ao ver fotos do
ser amado, se "acendem" algumas partes do núcleo caudado do cérebro,
estrutura que regula a sensação de recompensa. São zonas ricas em dopamina,
neurotransmissor que age no cérebro promovendo sensação de motivação e prazer,
e endorfina, que desperta sensação de bem-estar e euforia. "O
fenômeno é semelhante ao que ocorre com dependentes químicos e jogadores
patológicos diante da droga de escolha”, exemplifica a psicóloga.
Foram identificadas divergências em várias culturas: na
população americana, as mulheres com essas características superaram os homens,
e entre os japoneses e russos, as atitudes de amor patológico prevaleceram no
sexo masculino.
O problema é que as pessoas que vivem o amor patológico só buscam ajuda profissional quando perdem o parceiro. E quando isso acontece, eles têm em mente mudar algo em seu comportamento para agradar o parceiro na esperança de assim ele voltar. Nesse sentido, os programas de recuperação como DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos) e MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) podem ajudar na superação do problema. Esses grupos de apoio procuram recuperar comportamentos compulsivos e que envolvam a dependência por sexo, relacionamentos românticos, fantasias e anorexia sexual. Os voluntários seguem doze passos, nos mesmos moldes dos Alcoólicos Anônimos, e partem do princípio de que o primeiro passo para a recuperação é reconhecer a origem do seu comportamento desajustado.
Segundo
a pesquisa realizada por Eglacy, 22% das
pessoas com amor patológico não têm qualquer transtorno psiquiátrico, o que
mostra que esse quadro pode surgir isoladamente. Outro achado é o alto risco de suicídio identificado em
28% deles (o que mostra um perfil mais voltado para a auto agressividade do que para a agressão ao sexo oposto). Também
houve maior prevalência de depressão e
de transtornos ansiosos. Apenas 8% apresentaram TOC. E, ao contrário do que se pensava, não existe uma correlação
entre amor patológico e intensidade de amor (amor excessivo), mas sim a persistência num amor que não dá certo e
gera sofrimento.
Critérios para diagnóstico de amor
patológico
1) SINAIS E SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA
Quando
o parceiro está distante (física ou emocionalmente) ou perante ameaça de
abandono, podem ocorrer: insônia, taquicardia, tensão muscular, alternância de
períodos de letargia e intensa atividade.
2) O ATO DE CUIDAR DO
PARCEIRO OCORRE EM MAIOR QUANTIDADE DO QUE O INDIVÍDUO GOSTARIA
O
indivíduo costuma se queixar de manifestar atenção ao parceiro com maior
frequência ou período mais longo do que pretendia de início.
3) ATITUDES PARA REDUZIR
OU CONTROLAR O COMPORTAMENTO PATOLÓGICO SÃO MAL SUCEDIDAS
Em
geral, já ocorreram tentativas frustradas de diminuir ou interromper a atenção
despendida ao companheiro.
4) EXCESSIVO DISPÊNDIO
DE TEMPO NO CONTROLE DAS ATIVIDADES DO PARCEIRO
A
maior parte da energia e do tempo do indivíduo são gastos com atitudes e
pensamentos para manter o parceiro sob controle.
5) ABANDONO DE
INTERESSES E ATIVIDADES ANTES VALORIZADOS
Como
o indivíduo passa a viver em função dos interesses do parceiro, as atividades
propiciadoras da realização pessoal e profissional são relegadas, como cuidado
com os filhos, atividades do trabalho e convívio com colegas.
6) O AMOR PATOLÓGICO É
MANTIDO, APESAR DOS PROBLEMAS PESSOAIS E FAMILIARES
Mesmo
consciente dos danos resultantes desse comportamento para sua qualidade de
vida, persiste a queixa de não conseguir controlar tal conduta.
(*) As anfetaminas são drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso central, isto é, fazem o cérebro trabalhar mais depressa, deixando as pessoas mais “acesas”, “ligadas” com “menos sono”, “elétricas”, etc. É chamada de rebite principalmente entre os motoristas que precisam dirigir durante várias horas seguidas sem descanso, a fim de cumprir prazos pré-determinados. Também é conhecida como bolinha por estudantes que passam noites inteiras estudando, ou por pessoas que costumam fazer regimes de emagrecimento sem o acompanhamento médico.
Fonte: Amor patológico: um novo transtorno psiquiátrico, de Eglacy Cristina Sophia, Hermano Tavares e Mônica Zilberman
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