BREVE
APRESENTAÇÃO DA SÍNDROME DA FADIGA CRÔNICA (SFC)
A
Síndrome da Fadiga Crônica (SFC), categoria nosológica em voga, emergente no
final da década de 1980, nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, no contexto
de outras síndromes funcionais e presente no CID-10 (G 93.3), tem sido comparada ao quadro novecentista da (*)neurastenia,
devido à semelhança com as manifestações
sintomáticas, como fadiga, sintomas gástricos,
genitourinários e neuropsicológicos. Outro ponto em comum que leva os
interessados nos transtornos ligados à fadiga a estabelecer relações entre a
neurastenia e a SFC é a ausência, em ambos os casos, de um substrato anatomofisiológico ao qual se possa
associar a causa das duas referidas condições. A falta desse substrato traz inúmeros desdobramentos para a
lcansaçoegitimidade da SFC, principalmente no que se refere a ela ser considerada
digna (ou não) de cuidado médico, no amparo dos seguros de saúde e no respeito ao
paciente acometido pela síndrome.
(*) Neurastenia
(neuro = cérebro, astenia= fraqueza), é um transtorno psicológico resultado do
enfraquecimento do sistema nervoso central, culminando em astenia física e
mental. É um termo antigo, usado pela primeira vez por George Miller Beard em
1869 para designar um quadro de exaustão
física e psicológica, fraqueza, nervosismo e sensibilidade aumentada
(principalmente irritabilidade e humor depressivo). Era um diagnóstico
muito frequente no final do século XIX que desapareceu e foi revivido várias
vezes durante o século XX sendo incluído no CID-10 pela OMS mas não pelo dicionário
de saúde mental atual (DSM IV). Sua prevalência está entre 3 e 11% da
população mundial, sendo tão comum em homens quanto em mulheres.
CONTEXTO DE
EMERGÊNCIA DAS SÍNDROMES FUNCIONAIS
A
SFC encontra-se situada no cenário mais abrangente das ditas síndromes
funcionais, tais como a síndrome do cólon irritável, a fibromialgia, a síndrome
pré-menstrual, a disfunção temporomandibular, a dor no peito não cardíaca
(síndrome de Da Costa), as lesões por esforços repetitivos e a sensibilidade química
múltipla (Manu, 2004; Wallace e Claun, 2005). Conforme indica Manu
(2004), considerá-las funcionais
significa dizer que são consideradas doenças físicas sem uma justificativa
orgânica e sem uma demonstração de lesão na estrutura do organismo, tampouco
de alterações bioquímicas estabelecidas. Além de comungarem o status de
funcionais, apresentam uma série de sintomas sobrepostos, tais como fadiga, mialgias, perturbações gástricas, dificuldades
de concentração, labilidade de humor, transtornos do sono e de ansiedade.
Como
demosntram Barsky e Borus (1999), o termo síndrome funcional tem sido aplicado
a diversas condições relacionadas entre si e caracterizadas mais por sintomas de sofrimento e incapacidade do
que por anormalidades demonstráveis nos tecidos e na estrutura do organismo.
Essas síndromes apresentam altas taxas de comorbidade entre si e entre
categorias psiquiátricas ligadas aos transtornos
do espectro histérico, do humor, de ansiedade e somatoformes. O clima ao redor delas inclui cobertura da mídia, desconfiança
do meio médico, mobilização das partes interessadas, litígio entre advogados e
planos de saúde.
Os pacientes
frequentemente constroem seus próprios diagnósticos a partir das
informações culturalmente disponíveis e dos
veículos midiáticos (Rosenberg, 2006; Dumit, 2006). Esses processos estão
em pleno desenvolvimento no contexto norte-americano mas também se apresentam
no contexto brasileiro, embora em um nível menos flagrante.
Segundo
Wessely (1989), a história da síndrome da
fadiga crônica começou com a publicação, no início dos anos 80, de algumas
séries de casos que descreviam uma doença com sintomas semelhantes aos efeitos
retardados de uma infecção viral, manifestada por fadiga e outros sintomas, em
grande parte subjetivos e aparentemente associados a evidências serológicas de
infecções prolongadas pelo vírus Epstein-Barr (EB) – muito embora alguns estudos,
como o de Gold et al. (1990), não tenham demonstrado correlação entre
parâmetros (*)serológicos
da atividade desse vírus e a condição clínica em questão.
(*) A Serologia ou
Sorologia é o estudo científico do soro sanguíneo. Na prática, o termo se
refere ao diagnóstico e identificação de anticorpos e ou antígenos no soro. Conhecem
atualmente numerosas características sanguíneas hereditárias. O estudo da sua
variação em relação à repartição geográfica, à sobrevivência num dado ambiente
e à patologia tem contribuído grandemente para a moderna antropologia física.
No
que se refere à definição dos sintomas que caracterizam a síndrome, a definição mais aceita até hoje, também
conhecida como definição internacional, é aquela ligada às pesquisas de Fukuda
et al. (1994).
O diagnóstico de SFC requer a presença de fadiga persistente
ou recorrente com início definido e no mínimo quatro de oito queixas subjetivas
específicas (prejuízo substancial na memória de curto prazo e na concentração,
dor de garganta, sensibilidade nos linfonodos cervicais ou axilares, dor muscular,
dor nas articulações sem evidência de artrite, dores de cabeça de tipo
diferente - em relação ao padrão e à severidade - do que costumeiramente o
paciente apresentava, sono não restaurador, mal-estar pós-exercício de duração
maior que 24 horas). Os sintomas associados devem durar no mínimo seis meses. O
início da SFC geralmente ocorre entre os 20 e os 40 anos de idade – embora
qualquer grupo etário possa ser afetado - e o número de mulheres afetadas é
ligeiramente maior que o de homens.
Dowset
e Colby (1997) assinalaram o aumento da síndrome
em crianças, que apresentam um quadro clínico similar ao dos adultos.
Diferentemente do que se pensava anteriormente, não há associação com status
social, embora haja fortes indicações de aparecimento entre professores e
profissionais da saúde.
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