Especialista alerta para necessidade de diagnóstico precoce
e lança projeto para ampliar atendimento para mulheres na fila de espera da Santa Casa de SP, com diagnóstico de Endometriose.
Você sabe o que é endometriose?
“É uma doença
confusa. Tem de conversar bastante para entender. Ela começa no útero e vai
para outros lugares, para onde não deveria ir.” A resposta não é de uma
especialista, é da cantora e atriz Maria Bia Martins, de 31 anos. Mas ela sabe
do que está falando pois faz parte da preocupante estatística de cerca de 6
milhões de mulheres brasileiras atingidas pela doença. A moça foi operada num
estágio bem adiantado da endometriose, quando ela havia atingido o seu
intestino. Hoje, passa bem. A ginecologista e cirurgiã Helizabet Salomão
Abdalla Ayroza Ribeiro, especializada no assunto, concorda com a descrição de
Maria Bia. A confusão a que ela se refere vem da dificuldade do diagnóstico.
“Como os primeiros sintomas são cólicas, os médicos e as pacientes não valorizam
a queixa, pois ficou estabelecido que mulher tem cólica mesmo, é normal”, diz a
médica Helizabet.
Onde a endometriose ocorre?
Os
implantes de tecido endometrial ocorrem com mais frequência nos seguintes
locais:
•
Peritônio
•
Ovários
•
Trompas de Falópio
•
Na superfície do útero, bexiga e intestino
•
Fundo de saco vaginal (o espaço atrás do útero)
•
Raramente fora da pelve feminina, como no fígado, em cicatrizes de cirurgias, e
até no cérebro ou pulmões.
É
uma doença que atinge as mulheres em idade reprodutiva e que se caracteriza
pela presença de endométrio em locais fora do útero. O endométrio é a camada interna do útero que é renovada mensalmente
pela menstruação. Existem três tipos
de endometriose: ovariana, peritoneal e profunda. Quando não tratada a
tempo, pode invadir outros órgãos da pelve, como os citados acima.
Foi
assim com Maria Bia. Ela sentia cólicas terríveis. “Só saía da cama para ir
trabalhar”, lembra. Depois de uns anos,
passou a tomar pílula anticoncepcional para não menstruar. Vinda de Brasília
para São Paulo, foi batalhar a vida e assim o tempo passou. “Como não
menstruava, não tinha cólica. Então, não liguei mais para aquilo. Até que, anos
depois, tive um cisto rompido no ovário e fui parar na emergência de um
hospital. Os médicos que me operaram disseram que eu tinha endometriose e que
ela já havia invadido o meu intestino. Precisaria procurar um
especialista.” Alguns meses depois,
Maria Bia voltou ao hospital e fez a cirurgia. “É uma operação cara e eu só
pude fazer porque tive ajuda de amigos”, conta.
A
médica Dra. Helizabet, que atende na
Santa Casa de São Paulo, pelo SUS, diz que só ali há 150 mulheres na fila esperando pela mesma cirurgia de Maria Bia: a endometriose intestinal. “A gente só
consegue operar uma por mês e mantém as outras na fila com medicamentos. Mas é
uma doença muito invasiva. A vida é limitada pela dor presente nas cólicas e na
atividade sexual.”
Mais
atendimento
Santa
Casa lança projeto para auxiliar mulheres com a doença - em funcionamento desde 21/05/2012
Em maio de 2012,
foi lançado o Projeto Social ProEndo (ou Pro-Endometriose). Esta foi uma
iniciativa do Departamento Obstetrícia e Ginecologia da Santa Casa de São Paulo
para auxiliar mulheres portadoras da doença. A coordenadora do projeto, Helizabet Salomão Ayroza Ribeiro, diz
que o maior problema é a desvalorização dos principais sintomas. Confira os
detalhes com Patrícia Rizzo.
Helizabet diz que
a cirurgia da endometriose intestinal custa caro por causa do material usado e
de exames mais elaborados. Para ampliar o atendimento na Santa Casa/SP, ela e
outros especialistas lançaram o projeto social Pró Endometriose. O objetivo é dar
atendimento a mais mulheres e esclarecer sobre a doença. “Se ela for
diagnosticada no começo, pode ser curada só com medicamentos”, diz Helizabet. E
alerta: “Ela atinge todas as faixas etárias. É importante ir ao ginecologista e
não aceitar que cólica é normal. Se a dor não passa com analgésicos, tem de ser
investigada.”
O projeto da
Santa Casa começa capacitando ginecologistas para fazer a cirurgia intestinal,
segundo a médica, que também é professora. “Já conseguimos, para este ano,
operar dez mulheres a mais. É um começo!”
Profa.
Dra. Helizabet Salomão A. Ayroza Ribeiro, uma das idealizadoras do projeto.
Mestre em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da SantaCasa de São Paulo
Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO
Título de Habilitação em Laparoscopia e Histeroscopia pela FEBRASGO
Doutora em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Profissional com ampla atuação prática em endometriose, miomatose uterina e sangramento uterino anormal
A
Profa. Helizabet terminou sua especialização em Ginecologia e Obstetrícia na Santa Casa de São Paulo no ano de 1998.
Desde então atua como professora nesta entidade na qual defendeu seu mestrado
no ano de 2006 e seu Doutorado em medicina no ano de 2010. Dedica-se à
Ginecologia Minimamente Invasiva com interesse especial à Videolaparoscopia e
Videohisteroscopia.
Atualmente
participa de estudos que investigam a interferência de diversos fatores
biomoleculares na gênese e na progressão da endometriose, bem como os efeitos
do tratamento da endometriose na Qualidade de Vida da mulheres portadoras desta
doença.
CONHEÇA O
PROENDO ou pro-endometriose
Foi lançado em 21 de maio
de 2012, em São Paulo, o projeto social PROENDO (Pró-Endometriose), ligado
ao Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Santa Casa de Misericórdia de
São Paulo. “Atualmente, uma paciente pode levar cinco, seis e até sete anos
para ser operada. O Proendo vai ajudar mulheres com palestras, reuniões e
esclarecendo dúvidas a respeito da endometriose.
Vamos também buscar parcerias com o setor privado para conseguir o
material necessário para as cirurgias, não fornecido pelo SUS (Sistema Único de
Saúde), fazendo com que essas mulheres possam ser atendidas mais rapidamente”,
esclareceu a professora Dra. Helizabeth Salomão Abdalla Ayrosa Ribeiro, uma das
coordenadoras da iniciativa.
A cerimônia ocorreu no auditório do Hospital Santa Isabel e teve
sua mesa composta por Dra. Helizabeth; pela vice-prefeita, Alda Marco Antonio;
pelo assessor técnico da Coordenadoria de Atenção Básica à Saúde da Prefeitura
Municipal de Saúde, Dr. Jovino Paes Junior; pelo chefe da Disciplina de
Ginecologia da Santa Casa, Dr. Vilmar Marques de Oliveira; pelo diretor médico
do Hospital Santa Isabel, Dr. Frederico Carbone Filho; pelo Diretor Clínico da
Santa Casa de São Paulo, Dr. Raimundo Rafaelli Filho; e pela editora da Agência
de Notícias da Aids, Roseli Tardelli. Alda Marco Antonio lembrou que nos anos
70 os postos de saúde do setor de saúde pública não tinham ginecologistas em
seus quadros.
“É de extrema importância um projeto voltado para a atenção à
saúde da mulher. Vocês podem contar comigo no combate à endometriose”,
declarou. Dr. Rafaelli manifestou a
sua satisfação pelo projeto ter tido sua origem na Santa Casa. “Precisamos do apoio de todos para combater essa doença que
castiga tanto, que é mal diagnosticada e mal tratada. Este projeto vai
abrandar, com certeza, o sofrimento dessa população”. “É importante que a cidade de São Paulo consiga construir uma
resposta para as mulheres com endometriose do mesmo jeito que conseguiu
construir uma resposta para as pessoas vivendo com HIV e aids”, ressaltou Roseli Tardelli.
“Queria também
convidar as mulheres com endometriose para fazerem uma manifestação, dando as
mãos em um abraço ao redor da Santa Casa para chamarmos atenção para esta
questão”, finalizou a jornalista.
O projeto foi recebido com entusiasmo por profissionais de saúde e
pacientes da Santa Casa presentes ao evento. “É uma iniciativa excelente, uma
maneira de poder atender as pacientes com qualidade e dar o tratamento
adequado. Se a paciente não é atendida adequadamente, a doença continua”,
explicou a ginecologista Catulina Bosi.
Para a Dra. Jaqueline
Alvarenga, o projeto é fundamental. “Um dos principais fatores limitadores
do tratamento da doença é o alto custo. É primordial fornecer tratamento
completo também às pacientes de menor renda”, observou. Outra ginecologista, a Dra. Karin Rossi informou “que o Brasil não deixa nada a desejar
em relação aos outros países no que diz respeito à experiência no atendimento
às mulheres com endometriose. É essencial que o diagnóstico da doença seja cada
vez mais precoce”, alertou.
Depoimento de alguns Pacientes
Maria Aparecida Gonçalves, dona de casa, contou que é a paciente
número 120 na fila para a cirurgia na Santa Casa, “o que significa que pode
demorar até oito anos para eu conseguir ser operada”, disse. “Espero que o
projeto agilize esse processo”.
Outra dona de casa, Vanda de Souza Bueno, de 43 anos, foi
diagnostica há cerca de oito anos e elogiou a iniciativa. “Tudo o que fizerem
para acelerar o tratamento é bem-vindo. Só quem tem a doença, sabe o sofrimento
que é. A dor é intensa”, relatou. Vanda descobriu que tinha endometriose quando
tentou engravidar. “Tinha parado de tomar pílulas e mesmo assim não conseguia.
Quando o médico me deu o diagnóstico, eu já não podia ter filhos nem mesmo por
inseminação artificial”.
Divina Cardoso da Silva, auxiliar de enfermagem, de 59 anos,
perdeu um rim por causa da doença. Ela teve que passar por uma cirurgia e
contou que suporta bem a dor. “Eu preciso de uma nova operação, mas preciso
aguardar seis meses para ser avaliada, para saber se realmente poderei ser
operada. O diagnóstico precoce vai ser bom pra muita gente. Se meu diagnóstico
tivesse sido feito antes, eu não teria perdido um rim.”
O público presente à cerimônia de lançamento teve a oportunidade
de assistir a uma palestra ministrada pelo Professor Adjunto e chefe da
disciplina de Ginecologia da UERJ e Chefe do Ambulatório de Endometriose do
Hospital Universitário Pedro Ernesto, Dr. Marco Aurélio Pinho de Oliveira. Ele é um dos coordenadores do MOVENDO (www.movendo.com.br), projeto similar ao PROENDO no Estado do Rio de Janeiro.
PROENDO - É um projeto
social que tem como objetivo informar, orientar e buscar subsídios para o
atendimento e tratamento das pacientes portadoras de endometriose. Existe uma
longa espera para realizar esta cirurgia. As parcerias com empresas tem
possibilitado aumentar o número de cirurgias, em 2012 foram realizadas nove
cirurgias a mais.
Para maiores
informações de como colaborar, entre em contato:
doacao@santacasasp.org.br
| tel (11) 2176-1734
Acesse o site: http://www.proendometriose.com
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“Não dependa de ninguém na sua vida, só de Deus, pois até mesmo sua sombra o abandonará quando você estiver na escuridão.”