"Não somos o centro das atenções,
e o universo não gira ao nosso redor. Somos um ponto, um ponto único,
significativo, mas cuja maior importância é contribuir no conjunto da obra que
é a vida. Assumir mais que isso é carregar um peso desnecessário nos
ombros"
Na mitologia encontramos muito
material para reflexão sobre nossas próprias atitudes. Na mitologia grega, por
exemplo, encontramos a figura de Atlas,
um dos titãs que foi vencido por Zeus e seus aliados (as energias do
espírito, da ordem, do Cosmos). Todos os titãs vencidos nesta batalha foram
condenados eternamente ao Tártaro (equivalente ao inferno judaico-cristão), mas
Atlas foi condenado a carregar o “mundo“ nas costas por toda a eternidade.
Essa alegoria mitológica nos leva a
perceber que sempre que desrespeitamos as forças que harmonizam a vida,
sofremos a consequência de carregar nosso próprio mundo nas costas. Começamos a “carregar o mundo nas
costas” a partir do momento em que nos colocamos como o centro do mundo. É
nesta inversão de papéis que nós cometemos nossos maiores erros.
Queremos ser responsáveis por tudo,
moldar o mundo à nossa vontade e, não raro, começamos a carregar também “o
mundo dos outros” nas costas, por acreditar que somos os alvos de todas as
ações que provêm das outras pessoas.
Se você vem experimentando muito
sofrimento e realmente deseja mudar esta situação, pare imediatamente de pensar
que tudo o que acontece à sua volta está relacionado a você! Você não é o
centro do mundo, nem o centro das atenções. Mesmo as pessoas de vida pública e
celebridades são muito menos o centro das atenções do que pensam e gostariam de
ser.
Uma vez uma pessoa me procurou no
final de uma de minhas palestras e disse:
- “... eu tenho um problema muito
grande, onde quer que eu entre as pessoas estão sempre olhando direto para
mim”!
Eu perguntei a ela:
- “Como você saberia que estas pessoas
estão olhando direto para você, se você não estivesse olhando direto para
elas”?
Da mesma forma, muitas pessoas
reclamam que os outros estão sempre rindo dela, falando sobre ela,
criticando-a...
Um
momento:
Será que o único foco de interesse disponível é você? Quando as pessoas riem na
sua presença, este riso sempre significa deboche? Você tem certeza disso?
Passo muito tempo em aeroportos, nas
idas e voltas das minhas palestras. Sempre que algum cantor ou artista
conhecido da mídia se encontra na sala de embarque surgem muitos risos. Estes
risos logo depois se transformam em pedidos de fotos e autógrafos, não eram
risos de deboche.
Com as pessoas que não são conhecidas
através da mídia, acontecem coisas similares. Diversas vezes já vi rapazes
rindo entre si ao comentarem a beleza, o charme ou a sensualidade de uma bela
jovem na sala de embarque. Presenciei várias vezes o mesmo fato quando um homem
muito bonito era apreciado por mulheres empolgadas com sua presença.
Risos não são e jamais foram expressão
universal de deboche. O fato é que a baixa autoestima faz com que as pessoas
interpretem fatos positivos como ameaças! Exatamente como essa pessoa que se
sentia observada só porque ela mesma estava observando os outros, muitas
pessoas sofrem por razões semelhantes todos os dias.
Em uma peça de teatro, em uma novela
ou em um filme, encontramos uma personagem central, a protagonista. A
protagonista é aquela que “agoniza”, sofre por todos. Toda a trama se origina
ao seu redor e reflete suas dores e alegrias.
Embora sejamos a personagem central de
nossas vidas, não devemos com isso acreditar que somos a personagem central na
vida dos outros. Não precisamos “agonizar”, sofrer, como se tudo ocorresse por
nossa causa ou sob nossa responsabilidade. As
coisas nem sempre são a nosso respeito!
Como seres humanos, temos a tendência
de pensar que as reações dos outros refletem algo que nós fizemos a eles. Por
isso, acabamos agindo como se fôssemos sempre os protagonistas de todas as
vidas ao nosso redor. Se você cumprimenta um amigo ou colega de trabalho e ele
responde de maneira fria, indiferente ou até grosseira, você começa a pensar: O
que foi que eu fiz a ele, para ele me tratar assim?
Você não precisa ter feito
absolutamente nada. A reação da outra pessoa pode ser fruto de problemas
pessoais, problemas de saúde, preocupações, problemas com outras pessoas ou um
aborrecimento que tenha ocorrido poucos segundos antes de você chegar.
Simplesmente, não tem nada a ver com você! Colocar-se
no centro de todas as situações não é uma prática saudável, cria problemas
inexistentes.
Agir assim, quase sempre, demonstra megalomania e/ou baixa autoestima. Essa
postura só causa problemas.
Da próxima vez que alguém reagir de maneira
negativa e inesperada à sua chegada, ou a qualquer ato seu, lembre que esta
pessoa pode estar passando por infinitas situações e que a reação dela pode não
ter relação direta com você. Na maioria das vezes, a pessoa que reagiu mal nem
percebeu ter agido assim com relação a você, ela está imersa em seus próprios
problemas e “carregando o seu próprio mundo”.
Se você percebe razões concretas,
evidências de que você efetivamente causou a reação, isso é natural no universo
das relações, uma boa conversa pode colocar tudo de novo no lugar!
Sempre que encontrar alguém em um dia
ruim (carregando o mundo nas costas), entenda que se nós temos o direito de ter
um dia “ruim” e de querermos ficar sozinhos e incomunicáveis por algum tempo,
outras pessoas também têm essa necessidade. Por que negaríamos esse direito aos
outros?
Não queira ser protagonista dos
sofrimentos alheios. A cada um de nós bastam os sofrimentos que nós mesmos,
desnecessariamente criamos e os que a vida nos apresenta, como convite à
reflexão e aperfeiçoamento.
Isso não é um convite à indiferença, é
um convite à aceitação do outro e um alívio para nós mesmos.
Não
somos o centro das atenções, e o universo não gira ao nosso redor. Somos um
ponto, um ponto único, significativo, mas cuja maior importância é contribuir
no conjunto da obra que é a vida. Assumir mais que isso é carregar um peso
desnecessário nos ombros! É melhor carregar o peso de um “ponto” a carregar “o
mundo” nas costas.
Da mesma forma que não devemos causar
intencionalmente dor nos outros, não devemos assumir a dor “particular” dos
outros, como se nós a tivéssemos causado.
Seja sempre solidário com a dor do
próximo, ajude o quanto puder, mas não julgue que você seja a causa e o
responsável por todas essas dores. Muitas pessoas escolhem sofrer, mesmo quando
não têm razões concretas para isso e exportam, com suas reações, a desarmonia
interna que elas mesmas criaram. Temos que aprender a nos libertar de
nós mesmos e dessas pessoas também. Não podemos ajudar alguém que não quer
ajuda e nem nos prejudicar com culpas que não temos.
Viva seu mundo ao invés de carregá-lo
nas costas. Convide os outros a fazer o mesmo.
"Eu
gosto de pessoas inteligentes que enxergam o mundo com humor. Tem muitas
pessoas em quem eu bato o olho e penso: deve ser legal ser amiga dela. É gente
que não carrega o mundo nas costas, que fala olhando nos olhos, que não se leva
tão a sério, que é franca na hora do sim e na hora do não. É difícil sacar as
qualidades de uma pessoa sem antes conhecê-la, mas intuição existe pra isso.
Tenho vários amigos que enriquecem minha vida e se encaixam no meu conceito de
'pessoas especiais', mas meu coração é espaçoso e está em condições de receber
novos inquilinos. "[Martha Medeiros]
por Carlos Hilsdorf
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“Não dependa de ninguém na sua vida, só de Deus, pois até mesmo sua sombra o abandonará quando você estiver na escuridão.”