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terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Abandono e as feridas que ele pode gerar!

Quantas vezes, ainda que na presença de alguém, temos a nítida sensação que em qualquer momento podemos ser abandonados? Quantas vezes, diante de um atraso, sentimos verdadeiro pânico? Quantas vezes nos desesperamos diante da possibilidade da pessoa amada nos deixar?

Quem viveu o abandono durante a infância pode sentir um medo incontrolável de ser deixado, procurando evitar a todo custo ser abandonado novamente. Quando falamos de abandono não é apenas em casos em que uma criança é literalmente abandonada por seus pais, a quem se espera ser amada e cuidada, mas aquelas que são abandonadas através da negligência de suas necessidades básicas, da falta de respeito por seus sentimentos, do controle excessivo, da manipulação pela culpa, ainda que ocultos, durante a infância.

Crianças abandonadas, psicológica ou realmente, entram na vida adulta, com uma noção profunda de que o mundo é um lugar perigoso e ameaçador, não confiando em ninguém, porque na verdade não desenvolveu mecanismos para confiar em si mesma.

O abandono está diretamente relacionado com situações de rejeições registradas na infância e que pode se intensificar durante toda a vida, principalmente quando se vivencia outras situações de rejeição e/ou abandono. Cada vez que vivenciamos situações de perda é como se estivéssemos revivendo a situação original de abandono, do qual dificilmente se esquece. Podemos sim, reprimir, fugir desses sentimentos, mas raramente conseguimos lidar sem sofrimento diante de qualquer possibilidade de perda e/ou rejeição.

Quando somos rejeitados em nosso jeito de olhar, expressar, falar, comer, sentir, existir, não obtendo reconhecimento de nosso valor, principalmente quando somos crianças, é inevitável que se registre como abandono, pois de alguma maneira, ainda que inconsciente, abandonamos a nós mesmos para nos tornarmos quem esperam que sejamos. Sente-se abandonado quem não se sentiu acima de tudo amado e isso pode ser sentido antes mesmo de nascer, ainda no útero materno. Pais que rejeitam seu filho durante a gestação pode deixar muitas seqüelas, em nós, adultos. Toda criança fica aterrorizada diante da perspectiva do abandono. Para a criança, o abandono por parte dos pais é equivalente à morte, pois além de se sentir abandona, ela mesma aprende a se abandonar.

Conforme percebemos, consciente ou inconscientemente, e ainda muito pequenos, que a maneira com que agimos não agrada aos nossos pais, vamos tentando nos adequar ou adaptar nosso jeito de ser e, aos poucos, vamos nos distanciando de quem somos de verdade, agindo de maneira a sermos aceitos.

É quando começamos a desenvolver o que chamamos de um falso self, a um estado de incomunicação (falta de comunicação) consigo mesmo, gerando uma sensação de vazio. O falso self é um mecanismo de defesa, mas que dificulta o encontro com o self verdadeiro. É muito comum que crianças que cresceram em famílias com algum desequilíbrio, proveniente do alcoolismo, agressividade, maus-tratos, ou qualquer outro tipo de abuso, tenha sofrido a negação de seu verdadeiro eu.

Crianças que sofreram em silêncio e sem chorar, ou como alguns relatam: chorando por dentro, podem aprender a reprimir seus sentimentos, pois uma criança só pode demonstrar o que sente quando existe ali alguém que a possa aceitar completamente, ouvindo, entendo e dando-lhe apoio, o que nesses casos, raramente acontece. Pode acontecer dessa criança desenvolver-se de modo a revelar apenas o que é esperado dela, dificilmente suspeitando o quanto existe de si mesma por trás das máscaras que teve que criar para sobreviver.

Alguns pais, inconscientemente, numa tentativa de encobrir sua falta de amor - o que é muito comum, por mais assustador que seja para alguns - declaram muitas vezes seu amor pelos filhos de forma repetitiva e mecânica, como se precisassem provar para si mesmos seu amor, onde as crianças sentem que suas palavras não condizem aos seus verdadeiros sentimentos, podendo gerar uma busca desesperada por esse amor, cuja busca pode se estender durante toda a vida. Ficar só para essas pessoas pode ser uma defesa para evitar novamente o abandono, gerando um conflito constante entre a necessidade de ser cuidado e o medo de ser abandonado.

É muito comum a criança se sentir abandonada em famílias muito numerosas, onde há muitos irmãos, e os pais não conseguem dar atenção a todos. Ou quando os pais constantemente estão ausentes pelos mais diferentes motivos, seja em função do trabalho excessivo, viagens, doenças, internações constantes, ou até pela dificuldade em cuidar de uma criança, não conseguindo fazer com que se sinta amada nem desejada naquela família.

A sensação de ter valor é essencial à saúde mental

Essa certeza deve ser obtida na infância. Por isso que a qualidade do tempo que os pais dedicam aos seus filhos indica para elas o grau em que os pais as valorizam. Por outro lado, a criança que é verdadeiramente amada, sentindo-se valiosa quando criança aprenderá a cuidar de si mesma de todas as maneiras que forem necessárias, não se abandonando quando adulta. Assim como crianças que passaram maior parte de seu tempo com pessoas que eram pagas para cuidar delas, em colégio interno, distante de seus pais, não recebendo amor verdadeiro, mesmo tendo tudo que o dinheiro pode comprar, poderão ser adultos como qualquer outra criança de tenha vindo de um lar caótico e disfuncional, crescendo sentindo-se pouco valiosa, não merecedora do cuidado de ninguém, podendo ter muita dificuldade em cuidar de si mesma. Ou seja, a maneira com que nos cuidamos quando adultos, muitas vezes reflete a maneira com que fomos cuidados quando crianças.

Precisamos chegar a ponto de perdoar aqueles que de alguma forma nos abandonaram ou que nos causaram uma dor profunda. Para alguns, essa é uma tarefa fácil, mas temos que admitir que para outros, pode ser praticamente impossível.

Como perdoar um pai bruto, que o fazia trabalhar desde muito pequeno ou pedir dinheiro, do qual depois consumia em jogos e bebidas? Como perdoar um pai que abusou sexualmente da filha, psicologicamente do filho? Como perdoar uma mãe que trancava os filhos no armário ou no quarto ao lado enquanto se encontrava com outro homem dentro da casa, ou quando deixava os filhos sozinhos em casa dizendo que ia trabalhar, quando na verdade ia se divertir? Como perdoar pais que sempre ocultaram a verdade, insistindo na mentira? Como perdoar um irmão que abusou sexualmente da irmã? Como perdoar uma mãe que demonstrava suas insatisfações através de gritos com seus filhos? Como perdoar um pai que batia constantemente na mãe na presença dos filhos? Como perdoar aqueles que roubaram a infância e inocência de muitas crianças? Como perdoar aqueles que o deixaram, o abandonaram?

Não é possível perdoar se o perdão for entendido como negação do fato, pois precisamos sentir a dor que ficou reprimida em nossa alma. Perdoar não significa aceitar, mas se permitir sentir e expressar toda a raiva e dor reprimida e encontrar caminhos saudáveis que podem transformar esses sentimentos em experiência e aprendizado.

Ao nos tornarmos mais conscientes de nossas feridas, entre elas as geradas pelo abandono, podemos agir sobre aquilo que vivenciamos, aprendendo a respeitar nossos sentimentos mais profundos, assumindo a responsabilidade pelas mudanças que podemos nos permitir vivenciar no momento presente. Não se trata de regresso ao lar, porque muitas vezes esse lar nunca existiu. É a descoberta de um novo lar, o qual cada um de nós pode construir, sem mais se abandonar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ser Livre!

O que é ser livre? Como o homem pode ser livre? Seria uma possibilidade utópica?
Mal entendida, negada, almejada, sobretudo usurpada a liberdade sempre foi uma questão fundamental para a humanidade.

"Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda"

Cecília Meireles

Há sempre questões, dúvidas e impossibilidades. Como serei livre com o pai que tenho? ...Ah! Quando eu me casar!... Depois do casamento pode ainda não sentir-se livre e novamente buscar soluções para iludir-se. Por que o ser humano tão freqüentemente é infiel? Será que aí julga-se livre? Estará ele realmente livre?

Liberdade não implica em falta de educação, ninguém precisa ser inconveniente ao meio para conseguir ser livre, mas deve impedir que o meio seja inconveniente a si para roubar-lhe a liberdade.

O homem sempre se fez prisioneiro de angústias, medos, culpas, solidão, impossibilidade de agir, padrões pré-determinados, doutrinas, normas, dogmas etc. Pode então se libertar buscando o autoconhecimento e realizando-se. Tornando-se responsável por suas escolhas.

Para Sartre o homem é a sua liberdade e está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto é livre, uma vez que foi lançado no mundo é responsável por tudo que faz.

Segundo Jaspers, só nos momentos em que exerço minha liberdade é que sou plenamente eu mesmo. Assim será o indivíduo autêntico, autônomo, auto-determinado.
Ser e fazer, implicam em liberdade. A condição primordial da ação é a liberdade. Liberdade é essencialmente capacidade de escolha. Onde não existe escolha, não há liberdade.

O homem faz escolhas da manhã à noite e se responsabiliza por elas assumindo seus riscos (vitórias ou derrotas). Escolhe roupas, amigos, amores, filmes, músicas, profissões... A escolha, sempre supõe duas ou mais alternativas; com uma só opção não existe escolha nem liberdade.

As escolhas nem sempre são fáceis e simples. Escolher é optar por uma alternativa e renunciar à outra ou às outras. Não existe liberdade zero ou nula. Por mais escravizada que se ache uma pessoa, sempre lhe sobra algum poder de escolha. Também não há liberdade infinita, ninguém pode escolher tudo.

Na facticidade (quando somos forçados a confrontar), somos limitados, determinados. Um ótimo exemplo nos é dado por Luís Fernando Veríssimo quando descreve: "poderia se dizer que livre, livre mesmo, é quem decide de uma hora para outra que naquela noite quer jantar em Paris e pega um avião. Mas, mesmo este depende de estar com o passaporte em dia e encontrar lugar no avião. E nunca escapará da dura realidade de que só chegará em Paris para o almoço do dia seguinte. O planeta tem seus protocolos".

Contra o senso comum "ser livre" não significa "obter o que se quis", mas sim "determinar-se por si mesmo a querer" (no sentido de escolher). O êxito não importa em absoluto à liberdade. O conceito técnico e filosófico de liberdade significa: autonomia de escolha, não fazendo distinção entre intenção e ato.

O ato livre é, necessariamente, um ato pelo qual se deve responder e responsabilizar-se. Porque sou livre tenho que assumir as conseqüências de minhas ações e omissões.
Os animais irracionais não são livres, não são responsáveis pelo que fazem ou deixam de fazer. Ninguém pode condenar um cavalo que lhe deu um coice. O animal não faz o que quer e sim o que precisa ou o que se encontra determinado pelo instinto de sobrevivência para que continue existindo.

O próprio vôo de um pássaro está sujeito às leis da Física. Kant brincava com essa idéia, imaginando uma pomba indignada contra a resistência do ar que a impediria de voar mais depressa. Na verdade, argumenta, é justamente essa resistência que lhe serve de suporte, pois seria impossível voar no vácuo.

"Não me apontes o caminho,
o rumo certo pra chegar ao cimo.
Deixa-me encontrá-lo para que seja
meu...
Não me reveles a mais brilhante estrela,
Aquela que te guia.
Eu buscarei a minha...

Não me estendas a mão quando eu cair.
Em tempo certo, em hora exata,
Eu ficarei de pé...

Não te apiedes de mim.
É minha estrada, é minha estrela,
É meu destino.

Deixa apenas que eu seja.
Sem ti..."

Eliette Ferreira

O homem para Sartre não pode ser ora livre, ora escravo. Ele é totalmente e sempre livre, ou não o é.
A liberdade não é alguma coisa que é dada, mas resulta de um projeto de ação. É uma árdua tarefa cujos desafios nem sempre são suportados pelo homem, daí resultando os riscos de perda de liberdade pelo homem que se acomoda não lutando para obtê-la.

domingo, 9 de outubro de 2011

Agressividade - Entenda os vários aspectos psicológicos

Talvez não haja um tema tão importante para o desenvolvimento das relações sociais, e melhoria da qualidade de vida do coletivo do que discutir à agressividade em vários níveis psicológicos. Infelizmente por aspectos culturais e até mesmo religiosos, se compara a agressividade apenas com violência ou destrutividade. Estas duas últimas são aspectos totalmente patológicos da conduta humana, causando risco iminente para a própria sobrevivência da espécie. A agressividade é um fenômeno comum do cotidiano, e nos cabe entender a mesma, buscando tanto seus aspectos positivos quanto os negativos. O enfoque do estudo é a agressividade enquanto afastamento de outro ser humano, e não a violência ou qualquer coação física.

Por definição, dentro de um parâmetro psicológico, a pessoa agressiva é aquela que reage a todo acontecimento, como se fosse uma prova, contenda ou disputa na sua leitura mental. A competição passa a reinar na alma da pessoa; e se fizermos um levantamento da história do indivíduo, descobriremos que desde cedo o mesmo se esforçou em demasia para não vivenciar a experiência da exclusão. A crítica é sempre devastadora para estas pessoas. Esta definição contempla os aspectos negativos do fenômeno. É curioso notar como a agressividade é um divisor de formas de conduta ou personalidade, pois o oposto é uma pessoa que vive em lamúria ou autocomiseração. Já os agressivos têm uma precipitação de reações ou sentimentos. Mais curioso ainda é como a sociedade amplia o conceito de agressividade, considerando que a própria sinceridade e autenticidade são resultados da mesma.


Com toda a certeza a hipocrisia é a manutenção da agressividade ao extremo, cortando todas as formas possíveis de reação. É um instrumento político de manutenção da força e desigualdade, para se evitar qualquer transformação nas relações. Poucos refletem sobre o fato de que uma explosão de raiva pode ser tão agressiva quanto uma omissão num momento fundamental de ajuda ou participação perante outra pessoa. Já sabemos que a dissimulação faz parte de nossa era, mas esta também é uma “filha” legítima da agressividade, sendo uma espécie de permissão para vivenciar a mesma de forma velada como foi exposto. O dilema histórico da humanidade é quando conter ou não a agressividade. Sua repressão abala inclusive a saúde física da pessoa.

O problema é que numa sociedade totalmente competitiva como a nossa, toda a resposta caminha à agressão, por conta da leitura de que alguém está invadindo o espaço vital do sujeito. A consequência é não apenas enfrentar os efeitos da agressividade, assim como a culpa resultante do processo. Quais seriam os aspectos positivos da agressividade? Servir para uma reflexão profunda sobre o tipo de reação que realmente é necessária. Os extremos assolam nossa sociedade; seres belicosos em qualquer situação banal, e personalidades ingênuas, não abstraindo a verdadeira intenção de seu meio; expor também os reais aborrecimentos ou sentimentos de frustração perante a pessoa ou coletividade. O problema passa a ser a dosagem de como isto é feito.

A autenticidade não implica necessariamente em rigidez, potência de voz ou extrema ansiedade. A explosão emocional se insere exatamente neste quadro, e a pessoa invariavelmente perde sempre o controle. Mas o que acontece que motiva sempre a perda do rumo para uma situação de conflito? Novamente podemos falar da competição? Tudo o que está sendo levantado remete ao que ALFRED ADLER, contemporâneo de FREUD, e criador da psicologia social, chamava de “complexo de inferioridade”. Pode ser definido desde sentimentos ou pensamentos depreciativos para com o próprio físico da pessoa, passando por sua crença internalizada de que não é uma pessoa com poder ou carisma perante a sociedade.

Quem sofre do complexo de inferioridade convive desde sua infância com uma certeza mórbida de que sempre é a última a ser lembrada ou requisitada para algo especial. A conseqüência deste processo é o desenvolvimento de uma personalidade tímida e retraída, sendo que nas situações sociais não sente nenhuma potência pessoal, gerando a raiva e ódio como compensações psicológicas. É como se na presença de outros se sentisse totalmente anulada, e o ódio citado vai constantemente sendo expelido. 

O drama máximo do agressivo é não perceber que é usado constantemente por pessoas que não conseguem lidar com sua raiva; estas acabam sempre criando uma armadilha para que a suposta pessoa agressiva atue o que as outras jamais teriam coragem de expor. É uma projeção de catarse no outro.


A agressividade negativa remonta a dificuldade de se lidar com o sentido mais profundo da vida. A posse e o apego, por exemplo, são forças direcionadas para um prazer metafísico de acúmulo ou continuidade do ego, o que contraria a essência de nossa vida que diz que jamais iremos reter, mas ao contrário, apenas podemos deixar algo.

Este fator realmente é eterno. 
Desde a disputa do complexo de Édipo, até as disputas históricas pelo poder, a agressividade negativa tem a característica de deixar marcas ou traumas indeléveis. É a tentativa de se eternizar usando o pólo destrutivo da alma humana. Infelizmente nossa mais forte lembrança para as gerações futuras sempre foi o uso da força e a brutalidade, nos mostrando que jamais esqueceremos alguém que nos impôs algo, ou então que desfilou determinado sentimento para o qual jamais poderíamos nos preparar, sendo esta a essência do trauma.

Se o respeito for obtido pela autoridade ou desprezo, a consequência inevitável será a cristalização do medo e insegurança. Caso seja conquistado pela superproteção ou mimo, se desenvolverá uma Personalidade egoísta e narcisista. O único ponto possível de equilíbrio é a retirada absoluta do rancor de um passado, para que a pessoa não descarregue ou compense algo em seus descendentes. O respeito pleno pela individualidade deve ser a meta. Obviamente não se esquecendo a imperiosidade de regras de convivência e responsabilidade social. Paciência, dedicação e confiança são a tríplice potência para formarmos algo de valor. 



A pergunta é: Você está disposto a aprender a ser um bom pai ou mãe? Tem ciência de toda esta responsabilidade para com o futuro do ser humano?


O fator psicológico central de uma pessoa agressiva é que a mesma possui a plena consciência de uma vida que lhe seria satisfatória, agindo com um tom constante de revolta pela não obtenção de seu projeto pessoal; sabe também que a cada dia está mais distante dessa
meta. Esta tese se transforma no núcleo do círculo vicioso. O não atingir o desejo pessoal ativa uma reação descontrolada e intempestiva perante uma simples frustração, e tal hábito afasta a pessoa da solução definitiva de seu problema comportamental. Reagir perante os mais insignificantes fatos novamente é o indício da atuação marcante do complexo de inferioridade no ser humano.

A agressividade se alia constantemente com outros sentimentos negativos, o principal deles é a inveja, devido à possibilidade da descarga da frustração e raiva. A inveja cria uma constante necessidade de fuga da situação dolorosa de se comparar e se sentir inferiorizado, partindo-se para o ataque. A
agressividade é consequência de uma política não apenas econômica do nosso sistema, mas dirigida a esconder todos os sentimentos ou emoções negativas do tipo: cobiça, ódio, avareza e a inveja citada. O sistema só permite o aflorar de tais sentimentos na hora exata do consumo, pilar da sociedade e fator destrutivo do “eu”, dependendo de sua freqüência. A agressão então se transforma na resposta fisiológica do silêncio imposto pela sociedade, assim como suas regras de dissimulação, como vimos anteriormente. Torna-se ainda um tipo de distração e fuga do tédio e rotina que assolam a pessoa. Jamais haverá cura para a agressão social e individual se não lidarmos com todos os mecanismos que geram a hipocrisia nas relações.

A tese no transcorrer do texto é a de que o agressivo se adianta a uma possível experiência de rejeição, tendo a certeza de que alguém fatalmente irá contrariar suas expectativas. Além disso, se conhece como uma pessoa totalmente solitária, sendo que o aflorar de sua agressividade é exatamente em resposta ao hábito de jamais conseguir conservar uma amizade ou relacionamento, disfarçando sua miséria afetiva no remoer todo tipo de conflito. A derrocada (ruína) de qualquer projeto afetivo sempre será iminente.

A pergunta é: será possível anular tal “maldição” pessoal? 

A experiência clínica comprova que uma das únicas possibilidades de cura é a vivência de seus sentimentos dolorosos na psicoterapia, transportando seu lado bélico numa arena onde realmente possa ser diluído ou controlado. A agressividade continuará no topo comportamental da pessoa quanto maior for sua necessidade de atenção ou carência. Temos de perceber que a compulsão para a liderança, poder e orgulho, quase sempre pode superar uma reflexão genuína e honesta acerca da conduta da pessoa. O fato é que a resposta agressiva acaba não temendo qualquer tipo de perda, pois sua meta é a desforra contra imagens de ódio internalizadas em seu passado.



O sonho a seguir relatado por um paciente dá a medida exata de tudo o que foi dito até o presente momento: “sonhei que iria enfrentar o maior campeão do mundo no boxe; meu treinador também havia sido um grande lutador; comecei a perceber então a enrascada em que estava; como poderia enfrentar alguém tão forte e impiedoso sem nunca ter treinado ou feito qualquer tipo de condicionamento físico; pensava em desistir, mas o medo do vexame me assolava totalmente; sentia que meu oponente além de tudo estava em sua melhor forma física; o curioso é que meu treinador acreditava em mim, me falando que a saída era um único golpe certeiro. A multidão começou a lotar o ginásio, e antes da luta vim a falecer. Este sonho mostra de forma cristalina toda a desproporcionalidade vivida por pessoas com um potencial agressivo acima da média, se engajando em situações onde fatalmente não terão um mínimo preparo para resolver de forma equilibrada seus conflitos, sejam pessoais ou sociais. É interessante como a energia agressiva atrai um “campeão do boxe”, provando que o fator inconsciente lançará a pessoa no caos, pois sua ira interna é desmedida perante suas reais potencialidades e possibilidades. O agressivo possui uma ambiguidade constante de desafio e recuo, o que aumenta sensivelmente todo seu tormento ou complexo de inferioridade.

Mas é justamente neste ponto que coloco em discussão outra temática polêmica; o agressivo não desejaria nunca ter a conduta do desafio, porém, sente que não há outras alternativas afora seu comportamento viciado. Como seria de vital importância que o sistema percebesse e aprofundasse tal conceito, provando realmente seu desejo de ajudar a evolução da pessoa. O emaranhado criado pela agressividade visa somente a compensação pela falta de estrutura e segurança afetiva. A agressividade em nosso mundo sempre irá gerar uma sensação de orfandade ou abandono, pois quase nenhum ser humano tem a capacidade de lidar plenamente com a culpa ou remorso após uma situação conflituosa. Aprofundando um pouco mais tal conceito, diria que somente depois de determinada perda é que o sujeito preso na agressividade visualiza todo seu histórico e modo de lidar com os afetos, embora como disse antes não consiga frear tal acontecimento.

Se olharmos à nossa volta, perceberemos que a competição é a droga ou vício de alguém que sempre tombará no lado pessoal. Basta nos atermos ao drama das separações ou conflitos conjugais. É impressionante a alienação nesta esfera. Há muito venho afirmando que nossa conduta profissional ou social é inteiramente transportada para o lado afetivo, pois uma relação jamais estará protegida das contaminações das relações sociais e de poder, porém, quase ninguém ainda percebeu tão óbvia conclusão.

A agressividade gera todo tipo de medo perante uma retaliação ou revanche, desencadeando o fenômeno da paranóia. É curioso que a psicanálise tenha descrito tal patologia como sendo uma proteção inconsciente perante uma possível homossexualidade, alterando tal conteúdo sexual para uma sensação de ser perseguido constantemente. O que FREUD deixou de salientar com seu famoso estudo do caso *SCHREBER, é que o paranóico não está fugindo de possíveis energias sexuais que teme, mas que a própria paranóia é o último recurso para não se tornar um psicopata, dado que sua agressividade atingiu um estágio fora de qualquer tipo de controle. Assim sendo, a mente inverte a polaridade, fazendo com que a mania de perseguição encubra ao menos temporariamente seus instintos destrutivos; ao invés de ser o perseguidor, se transforma na vítima.

O rancor, a raiva ou o ódio dão uma falsa sensação de vitalidade para a pessoa com a meta da desforra, porém, cedo descobrirá que há muito se encontra putrefata em seu passado de tortura por algo que apenas encobre sua incapacidade para o novo. Outro drama do agressivo é sua relação com a questão do tempo. Sente que não o possui em demasia, desenvolvendo a impaciência e extrema ansiedade. O agressivo possui uma idéia arraigada ou internalizada de que há muito lhe foi retirado algo de extremo valor no auge de seu gozo ou aproveitamento. A consequência é o incremento do narcisismo, pois clama o tempo todo que foi “roubado”, ou que até hoje não vivenciou determinada experiência de prazer, achando que deve ser o único merecedor de atenção perante sua injustiça pessoal. 



O agressivo se tornaria extremamente útil se aprendesse a utilizar sua energia de protesto no favorecimento e reforço de pessoas com baixa auto-estima ou temerosas de seu eu. Não seria apenas uma sublimação, mas um ânimo que poderia doar ou compartilhar com alguém que está sempre duvidando de suas capacidades. Claro que o sujeito agressivo também não tem uma boa estima, mas o que enfatizo seria o transporte de determinadas atitudes àquelas pessoas que nem sequer se posicionam nas mínimas solicitações.

A experiência clínica nos mostra uma faceta curiosa acerca do fenômeno da agressividade. Muitas pessoas que vêm para se tratar são extremamente instruídas tanto do ponto de vista intelectual, como de experiência de vida propriamente dita. O fato é que quase todas alegam não conseguir encontrar alguém que aceite trocar ou aprender sobre seu grande conhecimento acumulado. Alguns rapidamente responderiam que tal fato ocorre pela rejeição perante a personalidade do agressivo ou o modo como se comporta. Embora isto seja evidente, não completa como um todo a análise da questão. 


Não seria apenas o medo de uma pessoa o fator determinante do afastamento, mas principalmente que esta lhe desperte um potencial que nunca soube explorar. Foi citado anteriormente que o agressivo pode ser uma espécie de “bode expiatório”, àquelas pessoas que não ousam se colocar de forma sincera. Aqui acrescento uma certa inveja contra alguém que apesar de talvez exceder no trato social, alimenta uma certeza perante seu posicionamento. O final da era das revoluções se aplica também na pessoalidade humana; a lei atual é o medo e ansiedade quando se escuta a palavra mudar.

Outra questão a ser enfatizada é: o que leva em nosso cotidiano a alguém aumentar seu potencial agressivo? É um erro imputar tal fenômeno a uma sensibilidade em excesso perante injustiças pessoais, ou as traições e decepções que vivenciamos diariamente. A verdadeira questão é que o sujeito agressivo,
apesar de toda sua conduta imponente se sente na maioria das vezes totalmente dependente do outro, e o ódio é uma reação de desespero e tentativa de negar tal condição; este é seu pecado capital, quanto maior a energia empregada numa contenda, maior o risco de capitulação perante a opinião alheia. Não é por acaso que a sociedade é tímida, pois o verdadeiro inferno é a ditadura do julgamento alheio. A sociedade encaixa e dá sua importância a algumas modalidades: beleza, poder, riqueza ou prosperidade, candura e obstinação. O agressivo é totalmente expurgado do quadro anterior, sentindo que apenas na infração penal ou até mesmo na guerra é que se torna alguém necessário, sendo talvez suas únicas razões históricas de existência. A conseqüência de tal compreensão é um imenso quadro ansioso e de expectativa de mudança que não depende mais do indivíduo, mas de outro que possa lhe dar a absolvição.

Enfim, o agressivo deve aprender que uma verdade que expõe pode até ser transcendental, mas jamais pode justificar a submissão plena do outro. Há a necessidade da compreensão, observação e escuta profunda, mesmo perante alguém imbuído de idiossincrasias. O agressivo deve perceber que se habituou com um cenário de disputa e conflito, sendo que seria uma vitória para seu caráter expor seu lado caloroso e humano, e não somente sua rebeldia. A amargura que carrega, sempre será uma defesa perante sua “cruzada” histórica mal sucedida nos afetos. Sente ainda que jamais teve uma chance concreta de mudança ou de mostrar algo diferente. A observação clínica mostra que o agressivo possui uma admiração e curiosidade por pessoas formais e pragmáticas. Isto se deve ao fato de que estas últimas têm um anteparo eficiente contra a rejeição ou agressividade do meio.

O agressivo apesar de tudo sabe que é um eterno ingênuo num mundo de códigos e condutas totalmente subliminares. Sente a cada dia o afastamento por sua integridade emocional. Procura desesperadamente alguém que o aceite e compreenda seu modo peculiar de enxergar as relações cotidianas. Encanta-se facilmente com uma pessoa que mostra alegria e felicidade dentro de toda a estrutura social corrompida, pois sua necessidade é de uma espécie de “férias” do lado sombrio que constela diariamente. A lição suprema para este tipo psicológico é que toda a carga agressiva que tentou expelir durante anos, acabou se voltando contra si próprio, maculando sua paz de espírito, fator primordial para a saúde psíquica.


*SCHREBER: famoso caso atendido por FREUD de uma manifestação de delírio paranóico, que foi interpretado como um homossexualismo latente.
Referências bibliográficas: FREUD, Sigmund. “O CASO SCHREBER”, in OBRAS COMPLETAS. MADRID(ESPANHA): BIBLIOTECA NUEVA, 1981.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Enfrentando Desafios e vencendo o Medo



Temer o novo é algo bastante peculiar aos seres humanos.

Ao nos defrontarmos com o desconhecido, com algo sobre o qual não temos controle, geralmente nos sentimos com medo e ansiosos.

Muito embora esta condição seja absolutamente normal, há que se distinguir duas formas de se lidar com esta situação: numa primeira, as pessoas envolvidas em circunstâncias novas (um novo romance, um novo emprego, etc), ainda que sintam receio e ansiedade, se dispõem a enfrentá-las e a apostar nos frutos destes seus empreendimentos; um segundo grupo de pessoas se refugiam em situações, que muitas vezes são fonte de intenso sofrimento, a terem que enfrentar uma nova situação.

O que se tem entendido deste segundo grupo, é que, embora, tenham um repertório grande e repetitivo de reclamações em relação à vida, ao destino, ao mundo, pouco fazem para sair da condição em que se encontram.

Estudando e atendendo clinicamente, temos nos convencido de que embora haja um significado articulado à condição de sofrimento em que as pessoas vivem, há também um grande prazer em permanecer na mesma. (o que chamamos de ganhos secundários)

O desvelamento (tirar o véu, descobrir) de uma verdade, que muitas vezes a própria pessoa desconhece, não basta para tirar o paciente de sua angústia, é necessário que este renuncie a satisfação de permanecer numa situação em que os outros sejam obrigados a sentirem pena dele.

Em alguns encontros ou palestras, quando expomos esta forma de conceber o trabalho terapêutico, muitas pessoas se manifestam contrariamente e nos apontam situações como desemprego, doenças, morte de entes queridos, enfim, uma série de situações em que não é possível verificar qualquer prazer envolvido.

Muito bem, num primeiro momento pode parecer que não, mas mesmo em situações mais drásticas, a ajuda somente será eficaz se, enquanto terapeuta, nos posicionarmos num outro lugar que não seja o do compadecimento e do conformismo.

De fato o divã ou a poltrona do consultório, não são lugares onde necessariamente “se sorri”, mas entendemos que um trabalho terapêutico somente terá sentido se a pessoa sair melhor do que quando entrou.

Portanto, o raciocínio é que as pessoas sejam incentivadas a não mais viver obscurecidas pelo medo, mas sim a se lançarem em busca de algo novo e “correrem o risco” de serem mais felizes.

Penso que estas questões estejam totalmente vinculadas com o momento em que todos estamos vivendo. A modernidade nos convoca, a todo instante, a reinventar outros modos de nos relacionarmos com o mundo. No meu caso, o novo se apresenta no desafio de cada sessão e na esperança de fazer a diferença na vida de cada paciente.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Depressão não é frescura é coisa séria!

Estima-se que 15 a 20% da população adulta, em algum momento de suas vidas, apresentam sintomatologias depressivas, sendo as mulheres acometidas duas vezes mais, em relação aos homens. Até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo, diz OMS (Organização Mundial da Saúde). Isso significa que quem sofre de depressão tem a sua rotina “virada do avesso”, deixa de produzir e tem a sua vida pessoal bastante prejudicada. Atualmente, mais de 120 milhões de pessoas sofrem com depressão no mundo, sendo que só no Brasil, são 17 milhões. Cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da doença. Esse Transtorno ainda enfrenta preconceito, apesar de afetar mais de 120 milhões de pessoas.

A depressão é um mal silencioso e ainda, mal compreendido, até mesmo entre os próprios pacientes e familiares. Ela chega de mansinho, “assim como quem não quer nada”. Num dia a pessoa acorda triste, desanimada. No outro, bate uma sensação de vazio e uma vontade incontrolável de chorar, sem qualquer motivo aparente.

É considerada uma doença de causa multifatorial, envolvendo fatores biológicos (neurotransmissores), históricos (depressão e alcoolismo na família), ambientais (situações de conflito, apoio social deficiente, choque emocional) e psicológicos.

Considerada um transtorno mental afetivo, ou uma doença psiquiátrica, a depressão caracteriza-se por um quadro de tristeza, constante, choros periódicos, com sentimentos de culpa e decepção consigo e com os demais, que incapacitam o indivíduo para as atividades corriqueiras, como trabalhar, estudar, cuidar da família, passear e ter momentos de laser e descontração. Ela pode evoluir com manifestação de irritação, tensão e ansiedade. Em estágio mais elevado, impossibilita o indivíduo de realizar suas atividades diárias, pois há um desinteresse visível e falta de energia.

Outros sintomas incluem a baixa concentração, insônia, falta de apetite, apatia sexual, sentimento de desesperança, fracasso e pensamento em suicídio. Este quadro pode regredir em um espaço de 03 a 06 meses, mesmo sem nenhuma forma de tratamento, porém, com freqüência, há casos de recaídas entre 15 a 20% dos deprimidos, caracterizados como crônicos.

Em casos graves, com ideação suicida, a internação é uma medida necessária.

Conceituando depressão

O prof. Giovanni B. Cassano , MD e Chefe do Departamento de Psiquiatria, Neurobiologia, Farmacologia e Biotecnologia, da Universidade de Pisa, na Itália, com um histórico de quase quarenta anos de investigação empírica de transtornos de humor, afirma que:

“Quem está deprimido perde o apetite, reduz a alimentação, emagrece, tem insônias e os sofrimentos melancólicos agoniza-se nas primeiras horas da manhã para atenuar-se à tarde.
O humor é triste, a até abatido; o sentimento de impotência e de desespero não é influenciado pelos acontecimentos, mesmo quando são favoráveis. Diminui o impulso para procurar qualquer gênero de prazer e desaparece o desejo de experiências, anteriormente apreciadas com agrado. Compromete-se a capacidade de usufruir daqueles acontecimentos  que eram fonte de satisfação. O deprimido vê anular-se a capacidade de gozar algum prazer: assim, bloqueia-se uma das molas especiais que impelem para a ação; a existência esvazia-se de todo o significado“.

O escritor e professor de psiquiatria Andrew Solomon, descreve a depressão da seguinte maneira:

"A depressão é a solidão dentro de nós que se torna manifesta, e destrói não só a conexão com outros, mas também a capacidade de estar apaziguadamente apenas consigo mesmo"

(Andrew Solomon é um escritor (escreve sobre política, cultura e psiquiatria). Entre suas publicações, escreveu também sobre depressão. Em 2008, ele foi agraciado com o Prêmio Humanitário da Sociedade de Psiquiatria Biológica por suas contribuições ao campo da saúde mental. Ele tem um compromisso pessoal como professor de psiquiatria da Weill Cornell Medical College of Cornell University. Seu livro mais recente, The Demon Noonday: Um Atlas de depressão).

Descrita pela primeira vez no início do século 20, a depressão ainda hoje é confundida com tristeza, sentimento comum a todas as pessoas em algum momento da vida. Brigar com o namorado, repetir o ano escolar, perder o emprego, entre outros exemplos, são motivos para deixar alguém triste, cabisbaixo. Isso não significa, porém, que o sujeito está com depressão. Em alguns dias, ele, certamente, vai estar melhor. O desconhecimento real do funcionamento desse transtorno afetivo é o principal responsável por um dos maiores problemas para quem sofre com a depressão: o preconceito.

Para o Psiquiatra Marcos Pacheco Ferraz, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) ele, o preconceito, ainda existe e prejudica muito o paciente, principalmente no ambiente de trabalho, onde há competições e cobranças por bom desempenho. “É comum as pessoas nem comentarem sobre a enfermidade. Nesses casos, o melhor é tirar férias ou licença médica”.

E não é só isso. A ignorância em torno da doença faz com que familiares e amigos, na tentativa de ajudar, piorem ainda mais a condição do depressivo. Frases como "tenha um pouco de força de vontade", "vamos passear no shopping que melhora", "você tem uma vida tão boa, tá com depressão por que?" e "se ocupe com outras coisas que você não terá tempo de pensar em bobagens", funcionam como uma bomba na cabeça de quem já se esforça, diariamente, para conseguir sair da cama. Isso mostra que as pessoas não conhecem o transtorno.

Achar que é frescura ainda é comum. Elas não imaginam que o paciente não consegue reagir. Não depende de força de vontade.

Dr. Marcos P. Ferraz enfatiza que é muito importante a participação da família no tratamento. “Eles precisam saber o que devem e o que não devem fazer em relação ao doente”. Para ele, "fazer com que todos entendam o mecanismo do transtorno e como agem os remédios (medicamentos antidepressivos, ansiolíticos, etc), é fundamental para o sucesso do tratamento. Ainda existe o mito de que antidepressivo vicia, o que é um grande engano."

Critérios para o Diagnóstico da Depressão (segundo o DSM)

Para caracterizar o diagnóstico de depressão, foi criada uma tabela (vide abaixo).

Nela, cinco ou mais dos sintomas relacionados devem estar presentes. Dentre eles, um é obrigatório: estado deprimido ou falta de motivação para as tarefas diárias, há pelo menos duas semanas.

Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do tempo;
Anedonia: interesse diminuído ou perda da capacidade de sentir prazer para realizar as atividades de rotina;
Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;
Dificuldades de concentração: habilidade frequentemente diminuída para pensar e concentrar-se;
Fadiga ou perda de energia:  incapacidade de continuar funcionando ao nível normal da capacidade pessoal;
Distúrbios do sono: insônia ou hipersônia praticamente diárias;
Problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor; perda ou ganho excessivo de peso, na ausência de regime alimentar;
Idéias recorrentes de morte e suicídio.

De acordo com o numero de itens respondidos afirmativamente, o estado depressivo pode ser classificado em três grupos:

Depressão menor: dois a quatro sintomas por duas ou mais semanas, incluindo estado deprimido ou anedonia;
Distimia: três ou  quatro  sintomas, incluindo estado deprimido, durante dois anos, no mínimo;
Depressão maior: cinco ou mais sintomas por duas semanas ou mais, incluindo estado deprimido ou anedonia.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Viver é aprender...

Viver é aprender...
E só há aprendizado com mudança.
Os desafios que surgem daí são imprevisíveis, instigantes...
Os sentidos são postos à prova diante do novo, criando, dessa forma, uma nova perspectiva, nunca antes imaginada.

O contato constante com o desconhecido, os embates diante do medo de sair machucado, tudo isso é necessário para moldar nosso caráter.

Viver é aprender...
Escolher um caminho novo para seguir não é fácil, repercute ao nosso redor de forma brusca, incomodando e obrigando a quem está em nossa volta a se deslocar de seus lugares, seja física ou emocionalmente.

O mito da caverna (Platão) reflete bem tal situação (mudar significa estarmos sujeitos a confrontos, críticas e opiniões, de um modo geral).

Eis o preço que devemos pagar por tentarmos protagonizar a nossa própria história e criarmos cenários novos, com as cores e desejos vindos de nosso coração.
Porém, o resultado é sentido lá na frente, quando estivermos inseridos numa realidade da qual moldamos no decorrer de nossa caminhada. As quedas e machucados que sofremos nos dão mais resistência e maturidade.

Nossos filhos, ou entes próximos entenderão, com o tempo, o sentido real de nossa mudança, seja ela bem sucedida ou não.

A mensagem é bem clara: não devemos ter medo de seguir a direção que nosso coração nos aponta. Assim nos mostra a história daqueles a quem admiramos tanto. Exemplos de persistência diante da vida são os valores deixados pelos nossos ídolos.

Viver é aprender... mas para isso devemos ter coragem de mudar.
Nossa estadia aqui é muito curta...
O tempo é como o vento que leva consigo tudo de mais precioso, sagrado e pessoal de nossa vida – juventude, beleza, dinheiro.

O que restará serão as lembranças do que realizamos no decorrer da caminhada...
E nada como chegar ao fim do caminho, na velhice, olhando-nos ao espelho e, exclamarmos sorrindo: Eu vivi minha vida plenamente!


domingo, 2 de outubro de 2011

Transtorno de Personalidade Narcísica (Individuo que se julga grandioso, poderoso e especial)


O transtorno de personalidade narcísica é um distúrbio característico de pessoas consideradas no senso comum como muito egoístas, que só pensam nela, que têm uma preocupação muito grande em sua própria beleza e nas suas próprias conquistas, muitas vezes deixando os outros de lado, ou até mesmo prejudicando os outros em prol de sí próprio.

A característica essencial do transtorno de personalidade narcisista é um invasor padrão de grandiosidade quer na fantasia ou no comportamento real.

A pessoa com esse distúrbio psicológico, tem necessidade de admiração e falta de empatia que começa no início de idade adulta e está presente em uma variedade de situações e ambientes.

Para que uma pessoa seja diagnosticada com Transtorno Personalidade Narcisista, devem cumprir cinco ou mais dos seguintes sintomas:

ü       Tem um grandioso senso de auto-importância (por exemplo, exagera em suas realizações e talentos, espera ser reconhecido como superior sem realizações proporcionais).
ü       Está preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza, amor ou ideal.
ü       Acredita que é “especial” e único e só pode ser compreendida por outras pessoas que sejam especiais ou de alto status.
ü       Requer excessiva admiração. Precisa e quer ser elogiado (a)
ü       Tem um sentido de direito, é despropositado, tem expectativas de tratamento especialmente sempre favorável a si mesmo.
ü       É explorador (a), ou seja, se aproveita dos outros para alcançar os seus próprios fins.
ü       Apresenta falta de empatia: não está disposto a reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e necessidades dos outros.
ü       Frequentemente inveja dos outros, ou pensa que os outros são invejosos para com ele (a).
ü       Mostra-se arrogante, altivo em seus comportamentos ou atitudes.
ü       Apresenta grandioso senso de auto-importância. Superestimam suas capacidades e habilidades

Pessoas com desordem de personalidade narcisista podem supor que outros atribuem o mesmo valor aos seus esforços e pode se surpreender quando os elogios que eles esperam e merecem sentir não ocorre. Muitas vezes, mostram implícitos em seus comportamentos e expressões uma subestimação da capacidade dos outros, desvalorização dos outros, achando todos inferiores a si.

Sentem-se perfeitos e superdotados, com qualidades especiais e quem não os entende é porque não tem o mesmo nível, padrão ou status. Geralmente exigem admiração excessiva. Sua auto-estima é quase sempre muito frágil. Eles podem estar preocupados com o quão bem eles estão fazendo e como eles são vistos favoravelmente pelos outros.
Usam charme, esbanjam dinheiro e tomam atitudes para que estes elogios ocorram e para que sejam destacados perante os demais. Esperam sempre serem satisfeitos e ficam confusos ou furiosos quando isto não acontece.

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