A polaridade entre o sentimento de inferioridade e a vontade de poder...
“Vergonha, culpa, orgulho,
medo, ódio, inveja, carência e avidez
são subprodutos inevitáveis da construção
do ego "eu".
Eles estimulam a polaridade entre o sentimento de inferioridade e a
vontade de poder.
Eles são os aspectos da sombra da primeira emancipação do
ego.” (Edward C. Whitmont)
“Passamos nossa vida, até os 20
anos, decidindo quais as partes
de nós mesmos que poremos na "sacola", e passamos o resto da vida tentando retirá-las de lá.” (Robert Bly)
de nós mesmos que poremos na "sacola", e passamos o resto da vida tentando retirá-las de lá.” (Robert Bly)
Medite
sobre o que mais o incomoda em relação às pessoas. Não aspectos superficiais,
mas algo que realmente você abomine, odeie. Talvez seja ingratidão, traição,
injustiça, ciúme, medo ou impaciência. Reflita.
Você já pensou por que odeia isso?
Carl Jung
dizia: "Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a um conhecimento
de nós mesmos".
Toda
criança é total ao nascer. É inteira, mas no decorrer da vida começa a se
dividir. Ela é influenciada pela sociedade, pela religião e pela família,
começando a negar algumas características consideradas más. É a qualidade, o
jogo do que é bom ou mau. Com a chegada da maturidade, ela já negou muito de
sua personalidade real. Esconde uma parte de si, acha pecado, errado e sujo
algo que é dela, e tudo o que é rejeitado fica escondido ou guardado no
inconsciente.
Também encontramos exemplo da sombra no livro "O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde. O jovem Dorian faz um pacto com o diabo para
Assim é a nossa sombra. Como Dorian, desejamos mostrar uma face harmoniosa, amável, inteligente, e escondemos os nossos verdadeiros sentimentos, aqueles dos quais você se envergonha. É claro que devemos procurar preservar de nossa sombra as pessoas com quem nos relacionamos, senão criaremos confusões todo o tempo. O que não podemos é negá-la para nós mesmos, até porque ela possui aspectos muito positivos.
Todos temos uma máscara, que é a imagem que passamos para o mundo. Na astrologia nós a chamamos de ascendente, que é como as pessoas nos veem, é nosso impulso, a personalidade adquirida com a vida e por meio da qual transmitimos aquilo que temos de melhor. Chama-se persona na psicologia analítica e é como gostaríamos que todos nos reconhecessem. Por exemplo: no namoro superficial colocamos nossa persona, enquanto num relacionamento mais profundo acabamos por mostrar nossa sombra.
Fazemos com que nosso eu se
divida em três partes:
o
"falso eu" - a imagem que
criamos para agradar "aos outros";
o
"eu negado" - a parte que
"os outros" nos ensinaram ser negativa e por isso é negada.
São
exemplos: egoísmo, raiva, desejos sexuais (reprimidos), vingança, "erros
do passado", culpa (que não cria nada), traição, falsidade, desejo de
poder, mentiras, nossas brigas com Deus / Deusa, "pecados", vergonha,
etc.
É
provável que você tenha a maioria dessas características e outras mais. E não é
só você. Todos somos assim. Reconheçamos isso!
Jung sabia que a sombra é perigosa quando não reconhecida, pois projetamos nossos aspectos destrutivos no mundo e nos outros e somos inteiramente escravos dela até que domine nossa mente e passemos a pulsar somente ódio, tristeza, julgamentos, dor, reclamações, ressentimentos, magoa, indignação, inconformismo, etc. Começamos a ver defeitos em todas as pessoas, julgamos e enxergamos a sombra de nosso vizinho, da religião que não seja a nossa, de outra cultura, mas não vemos nossa sombra.
Muitas das "guerras espirituais" ou "religiosas" acontecem exatamente por isso. Vemos trevas em tudo e essas trevas são projeções do que temos em nosso interior. Atos impulsivos que depois geram arrependimento. Situações em que se humilham os outros. Raiva exagerada em relação aos erros alheios. Depressão quando se olha para dentro.
São Francisco
de Assis era sombra e luz, mas escolheu o caminho de luz; Hitler era sombra e
luz, mas escolheu o caminho da sombra. Hitler tinha a semente de Francisco, mas
Hitler se tornou Hitler. Francisco tinha a semente de Hitler, mas se tornou
Francisco. Francisco trabalhou sua sombra e tornou-se um mestre, que é ícone de
compaixão, tolerância e amor à vida. Esse é um trabalho para toda a vida e,
como recompensa, nos permite perdoar aos outros e a nós mesmos pelo que achamos
mau, pois a compaixão e a tolerância iniciam-se conosco e expandem-se para o
próximo.
O
meme é algo tão poderoso que irradia sua influência de uma mente para outra de
forma quase instantânea. É assim que as ideias se propagam. Da mesma forma como
os genes estão para a genética, os memes estão para a memética. E assim como o
DNA é o replicados biológico, o meme é o replicados cultural. Ideias sombrias e
limitadas podem ser ensinadas pela escola (que também tem um lado sombrio):
Quando pensamos que temos uma ideia, na
verdade são as ideias que nos têm. Faço essa colocação para que você
entenda que muitas vezes somos hospedeiros de ideias, opiniões ou crenças nem
sempre benéficas a nós, mas vantajosas a elas mesmas. E assim elas passam a
formar nossa sombra. Quanto mais felicidade e criatividade adquirimos na vida,
mais a sombra aumenta (Ex: INVEJA). Quanto mais luz, mais sombra e escuridão. (Ex.: O SUCESSO DE UNS, INCOMODA OUTROS) Todos os
gênios da humanidade tiveram sombras muito fortes. Quanto mais luminosa a
personalidade consciente, maior a sombra. Portanto, não projete sua sombra em outro. Perceba essas projeções, uma
limitação sua.
Nossa
luz e nossa sombra criam contradições em nossa alma. Qual caminho seguir? O que eu quero ou o que os outros querem de mim?
Todas
essas dúvidas nos remetem ao nosso lado sombra, já que é ele que detém todas as
chaves de nosso autoconhecimento, todos os nossos segredos.
Mas é bom não confundir a sombra com o ego negativo. Enquanto a sombra faz parte do ser real, pois nos faz olhar para nosso íntimo e nos descobrir na totalidade, o ego negativo é o ser idealizado e aquele que diz: "Não seja autêntico, seja aceitável". "Não se exceda, seja medíocre, seja normal." O ego muitas vezes nos ilude, mente, enquanto a sombra nos coloca diante da própria verdade porque ela sempre esteve conosco, desde o nascimento. E como sempre esteve conosco, ela se constitui de tudo aquilo que insistimos em negar e desconsiderar ou daquilo que nos recusamos a aceitar em nós mesmos.
Não agimos assim porque
queremos, mas porque desde criança tivemos que nos adaptar para sobreviver. E fomos ensinados a esconder
não somente coisas escuras, feias, que a sociedade diz que são pecaminosas,
terríveis, imorais, mas também as coisas boas, por causa das mensagens que
recebemos: "Não seja curioso"; "não seja tão honesto";
"não viva tão em contato com seus sentimentos"; "não seja tão
criativo"; "não seja tão sonhador"... E assim fomos ensinados a
construir nossa "autoestima". Por
isso o lado sombra é tão rico. E é, somente penetrando na própria escuridão, que você poderá transformar-se,
poderá transitar da antiga para a nova forma, livrando-se de seus temores e
vergonhas, fracassos e dores. E, somente assim, poderá descobrir sua verdadeira
força, seu poder, seus talentos e... sua alma.
Para sua reflexão, observe esta
lista de valores paradoxais:
Valores que provavelmente você deseja de coração
|
Valores
que a família, a religião e a sociedade exigem de você.
|
Sucesso
|
Humildade
|
Gula
|
Jejum
/ Moderação
|
Alegria
|
Dor
(crescemos num momento de dor)
|
Facilidade
|
Sacrifício
e Dificuldades
|
Sexo
|
Celibato
/ Monogamia
|
Dinheiro
|
Pobreza
(nos leva para o céu)
|
Felicidade
na terra
|
Felicidade
nos céus
|
Trabalhar
é prazer
|
Trabalhar
é obrigação
|
Não
fazer nada
|
Sempre
fazer algo
|
Dizer
não
|
Dizer
sim
|
Ter
privacidade
|
Deixar-se
invadir
|
Eu
sou o mais importante
|
O
outro é o mais importante
|
Eu
me amo
|
Amo
o próximo
|
Ter
liberdade
|
Obedecer
às autoridades e aos mais velhos. mais velhos
|
O
último pedaço de pizza é meu
|
O
último pedaço de pizza é seu
|
Falo
o que quero
|
Sou
bonzinho para agradar
|
Tenho
os meus desejos
|
Criança
não tem querer
|
Gasto
muito agora
|
Economizo
para o futuro
|
Aventura
|
Segurança
|
Eu
me trato da melhor maneira
|
Trato
as visitas melhor que a mim
|
Faço
o que quero
|
Obedeço
|
Dormir
até tarde
|
Acordar
cedo (Deus ajuda quem cedo madruga)
|
Ir
ao parque de diversões
|
Ir
ao culto
|
Reter
matéria
|
Dar
(vender tudo para doar aos pobres)
|
Possuir
para gastar
|
Dar
tudo aos necessitados
|
Tudo
tão contraditório, não é?
O
que é o bem o que é o mal?
Luz?
Sombra? Certo? Errado?
Não existem respostas para
essas questões, tudo é relativo, graças a Deus! Senão, qual o sentido de
viver? O que é bom para você pode não ser para os outros e vice-versa.
Jung
escreveu: "A triste verdade é que a vida humana consiste num complexo de
opostos inseparáveis. Dia e noite, nascimento e morte, felicidade e miséria,
bem e mal. Nem sequer estamos certos de que o bem superará o mal ou a alegria
derrotará a dor."
Que tal encontrar um equilíbrio
relativo entre aquilo que seu coração anseia e o que os outros desejam?
- Faça uma lista de
manifestações de sua sombra. Isso tudo que nega em si mesmo o inspirará a
conhecer-se melhor - você é assim.
- Enumere três atitudes que
odeia que tomem com você.
Será que você também não se
trata assim?
- Um exercício muito
interessante para trabalhar com a sombra é socar um travesseiro enquanto
gritamos com ele.
- Existem rituais de
transformação nos quais, por exemplo, escrevemos em pequenos pedaços de
papel algumas palavras e pensamentos perversos que estão pulsando na
sombra e depois os queimamos. Seria algo como o sacrifício da própria
sombra.
- Outra maneira de também
lidar com essa sombra é dançar, expressando na dança movimentos de
empurrão ou socos, como se estivesse soltando alguma coisa dentro de si.
Criatividade em todas as suas manifestações também "desreprimem"
a sombra. O importante é não se
reprimir. Mas também não tenha
a intenção de cortar o mal pela raiz. É impossível cortar o mal, pois
ele é uma parte de nós mesmos. Lembre-se de que é preciso olhar para
"nosso mal", para
nossa sombra e reconhecê-la.
Crianças que presenciam brigas
entre os familiares
ou situações limitadíssimas na vida, como fome, pobreza, analfabetismo, e a
falta dos pais, expressam essas contrariedades em desenhos, o que é
extremamente importante.
A sombra reprimida
demasiadamente pode voltar-se contra nós, gerando vícios, autoflagelação,
nervos à flor da pele, etc.
Tenha coragem de se olhar para curar a própria sombra e não se sentir tão
marcado pela vida, a ponto de não mais querer a felicidade. Sempre medite
nisso, na coragem para olhar sua sombra, olhar seus conteúdos, nem sempre
nobres.
Vêem
outra coisa como feia.
Chamando
outra coisa de boa,
Seu
contrário se torna mau.
Porém,
ter e não ter produzem um do outro.
Difícil
e fácil se equilibram,
Longo
e curto se completam,
Alto
e baixo dependem um do outro,
Altura
e tom formam juntos a harmonia,
Começo
e fim se sucedem."
Tão
Te King
Temos
uma reflexão profunda sobre os benefícios de aceitarmos ou reconhecermos
(consciência) nossas sombras.
A aceitação da sombra
O
objetivo de encontrar a sombra é desenvolver um relacionamento progressivo com
ela e expandir o nosso senso do eu alcançando o equilíbrio entre a
unilateralidade das nossas atitudes conscientes e as nossas profundezas
inconscientes.
O romancista Tom Robbins diz: "O propósito de encontrar a sombra é estar no lugar certo da maneira certa." Quando mantemos um relacionamento adequado com ele, o inconsciente não é um monstro demoníaco; diz-nos Jung: "Ele só se torna perigoso quando a atenção consciente que lhe dedicamos é desesperadoramente errada."
Um
relacionamento correto com a sombra nos oferece um presente valioso: leva-nos
ao reencontro de nossas potencialidades enterradas. Através do trabalho com a
sombra (expressão que cunhamos para nos referir ao esforço continuado no
sentido de desenvolver um relacionamento criativo com a sombra), podemos:
- chegar a uma
auto-aceitação mais genuína, baseada num conhecimento mais completo de
quem realmente somos;
- desativar as emoções
negativas que irrompem inesperadamente na nossa vida cotidiana;
- nos sentir mais livres da
culpa e da vergonha associadas aos nossos sentimentos e atos negativos;
- reconhecer as projeções
que matizam as opiniões que formamos sobre os outros;
- curar nossos
relacionamentos através de um auto-exame mais honesto e de uma comunicação
direta;
- e usar a nossa imaginação
criativa (através de sonhos, desenhos, escrita e rituais) para aceitar o
nosso eu reprimido.
Talvez...
talvez também possamos, desse modo, evitar acrescentar nossa sombra pessoal à
densidade da sombra coletiva.
A
analista junguiana e astróloga britânica Liz Greene mostra a natureza paradoxal
da sombra enquanto receptáculo de escuridão e facho de luz. "O lado
sofredor e aleijado da nossa personalidade é aquela sombra escura e imutável,
mas também é o redentor que poderá transformar nossa vida e alterar nossos
valores. O redentor tem condições de encontrar o tesouro oculto, conquistar a
princesa e derrotar o dragão... pois ele está, de algum modo, marcado - ele é
anormal. A sombra é, ao mesmo tempo, aquela coisa horrível que precisa de
redenção e o sofrido salvador que pode redimi-la."
"Prefiro ser íntegro a ser
bom." (C. G. Jung)
“Sombra: chama-me de irmão, para
que eu não tema aquilo que busco.” (Anônimo)
“Achar que tudo é positivo pode fazer com que neguemos nossa própria sombra e os aspectos egoístas e perversos.” (Otávio Leal)
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“Não dependa de ninguém na sua vida, só de Deus, pois até mesmo sua sombra o abandonará quando você estiver na escuridão.”