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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Tal pai, tal filho!

    Como Nossos Pais
                               
"O pertencimento a uma sociedade envolve um ponto paradoxal em que cada um de nós é obrigado a abraçar livremente, como resultado de nossa escolha, o que de todo modo nos é imposto (todos nós devemos amar nosso país, nossos pais, nossa religião)."  -  Slavoj Zizek  -  Como ler Lacan

Somos a imagem e semelhança de nossos pais, carregamos através do nosso código genético toda a carga de experiências vivida por nossos ancestrais até aquele ponto da evolução que culmina no que somos. Esta é a verdadeira senda do karma (conjunto de ações dos homens e suas consequências), é a grande oficina na qual vamos aprimorar nossa jornada evolutiva. Somos o espelho do karma que tramita através de toda a cadeia genética que a nossa ancestralidade representa, somos o resultado das experiências desenvolvidas, dos padrões de condicionamento, doenças e habilidades carreadas até nós, a partir de nosso código genético, que nos impregna das informações com as quais precisamos transformar em nossas vidas.

Talvez o seu jeitão, não seja genuinamente seu, quem sabe seja o jeito do seu avô agir dentro de você, do seu pai, ou da sua mãe. Quem é você de fato? Quem esta por trás das suas reações emocionais? O que você esta fidelizando dos programas familiares que sua vida esta reproduzindo?

A hereditariedade através da genética de nosso corpo, nossa mente, e nossos corpos sutis irão reproduzir as memórias ali construídas através da experiência que viaja no tempo e na evolução animal até chegar a você e a partir de então você é responsável por dar continuidade à melhoria desta jornada através da experiência pessoal. Neste sentindo, gosto de pensar o termo zodíaco, do grego zoo – animal – e diaco – ciclo, usado para descrever os ciclos astrológicos e que o seu sentido maior é este, ciclo animal, ou melhor, a cadeia pela qual evoluímos através dos ciclos de vida, de uma poligenesia, a própria cadeia do karma.

Nossos pais são a coagulação desta viajem no tempo, que é continuada através de nós e será continuado por nossos filhos, seguindo um ciclo interminável. Alhures, nossas personalidades são estruturadas a partir destas memórias, que formaram os nossos padrões reativos e os centros do habito que regerão nossos comportamentos e o nosso modo de ação na vida. Esta é a estrutura mental, o ego, onde toda a sua estrutura “do este sou eu” é arquitetada, como uma engrenagem que vai por sua historia em movimento.           


Segundo a alquimia, a vida na matéria é formada pela união dos elementos que compõe a sexualidade do pai, fogo e ar; e da sexualidade da mãe, água e terra, que ira compor de acordo com o grau de cada elemento neles organizados a nova vida, que é o resultado da tríade com o divino, para formar a trindade, o terceiro elemento, o filho. Esta união dos opostos, macho, fêmea, é a força que coloca a vida na forma em movimento, multiplicando a criação de Deus. O filho, o terceiro elemento, resultado dos dois, que vem da união dos elementos pai-mãe, será constituído a imagem da soma das informações biopsicoespirituais que vão constituir a personificação destes opostos nesta nova pessoa que dará continuidade a história.

A astrologia alquímica, diz que estas tendências ancestrais alimentam nossos centros vitais passando como energia fetal através dos chakras (canais dentro do corpo humano (nadis) por onde circula a energia vital (prana) que nutre órgãos e sistemas), todos os dias, de baixo pra cima, do chakra da base ao chakra da coroa, onde o ciclo se fecha, completando sua carga de influência em nosso psicossoma. Os alquimistas consideravam que os desvios de personalidade, da sexualidade e do caráter humano vinham de desequilíbrios destas energias ancestrais que se manifestavam através de tendências que poderiam ser tratadas com remédios alquímicos e astrológicos. 

Para os alquimistas este movimento de energia na serpente mercurial (DNA), permeia a aura humana com as energias peculiares do pai e da mãe. Onde, são descarregadas (upload) e ficam em movimento, alimentando os comportamentos e as reações emocionais. O nosso passado solar, a memória do pai dentro de nós, e o nosso passado lunar, o passado da mãe dentro de nós é o arquivo que compõe o acervo de modelos que iremos reproduzir na construção de nossos papéis e comportamentos.

Os padrões que regem nossas histórias se movimentam numa escala onde podemos dimensionar e compreender os resultados de nossas projeções em nossas vidas, e sabermos o grau em desvio que devemos corrigir de nosso padrão comportamental. Este desvio para os gregos da antiguidade clássica era chamado de pecado; e seria como o desvio da luz, a refração. Logo, o pecado, seria o desvio original do desejo. O desejo primevo, original, o anseio do ser. A este estado de desvio os terapeutas de Fílon de Alexandria chamavam de pathos, raiz da palavra patologia, doença, que para tratar e reorientar o desejo em desvio, o pecado, ou ainda, a doença, era preciso que a pessoa passasse por um processo de “terapéia”, ou terapia, que era um conjunto de técnicas para uma práxis de vida em harmonia com a essência, o ser, com a consciência do EU SOU, o self.

Este é um processo de totalidade, de gnose e individuação, o ser entra em comunhão com outros aspectos de sua consciência e elas se integram e se harmonizam como a orquestração de uma polifonia da alma. Quando somos capazes de amadurecer e transcender aos papéis e as fases da vida, passamos a ter uma consciência ampliada e o resultado disto é uma capacidade para reger os acontecimentos da vida sem se perder neles tendo um poder muito maior de realização e satisfação pessoal, este estado de visão, trás em si uma assertividade e uma resiliência maior para encarar os momentos da vida, e sermos bem resolvidos.

Este processo de cura consiste em abraçarmos nossos pais e nossos ancestrais e nos reconciliarmos com eles, numa grande confraternização e entendimento interior. Integrarmos-nos ao poder de suas experiências e forças arquetípicas, acolhê-los em seus ferimentos e tomar como missão pessoal a cura e a transcendências destes antigos padrões arquetípicos familiares que vem viajando no tempo.

Como diria uma canção de um poeta de minha terra, Belchior: “nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não”. “Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, nós ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. – nos queixamos deles mas fazemos as mesmas coisas, somos motivados pelas mesmas coisas, podemos começar um grande trabalho interior curando o nosso “pai interior”, nossa “mãe interior”, percebendo como funcionamos e mudando nossos modelos de ação e hábitos, para integrarmos o que há de melhor de nossa herança ancestral.      

por Paulo Rubens Nascimento Sousa


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