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sábado, 27 de agosto de 2011

Obstáculos - Razões de alguns dos nossos fracassos (Jorge Bucay)


Obstáculos - Jorge Bucay
“Este texto que estou a reproduzir aqui não é na realidade um conto, mas antes uma meditação guiada, delineada em forma de sonho destinado a explorar as verdadeiras razões de alguns dos nossos fracassos. Permito-me sugerir-lhe que o leia atentamente, tentando deter-se uns instantes em cada frase, visualizando cada situação”. (Jorge Bucay)

Vou caminhando por uma vereda.
Deixo que os meus pés me levem.
Os meus olhos pousam-se nas árvores, nos pássaros, nas pedras.
No horizonte recorta-se a silhueta de uma cidade.
Fixo nela o olhar para a distinguir bem.
Sinto que a cidade me atrai.
Sem saber como, dou-me conta de que nesta cidade posso encontrar tudo o que desejo.


Todas as minhas metas, os meus objetivos e os meus logros.
As minhas ambições e os meus sonhos estão nesta cidade.
Aquilo que quero conseguir, aquilo de que necessito, aquilo
que eu mais gostaria de ser, aquilo a que aspiro, aquilo que tento, aquilo pelo que trabalho, aquilo que sempre ambicionei, aquilo que seria o maior dos meus êxitos.
Imagino que tudo está nessa cidade.
Sem duvidar, começo a caminhar até ela.




Pouco depois de começar a andar, a vereda põe-se a subir pela encosta acima.
Canso-me um pouco, mas não importa.
Sigo.
Avisto uma sombra negra, mais adiante, no caminho.
Ao aproximar-me, vejo que uma enorme vala impede a minha passagem.
Receio… Duvido.
Desgosta-me não conseguir alcançar a minha meta facilmente.
De todas as maneiras, decido saltar a vala.
Retrocedo, tomo impulso e salto…
Consigo passá-la.

Recomponho-me e continuo a caminhar.
Uns metros mais adiante, aparece outra vala.
Volto a tomar impulso e também a salto.
Corro até à cidade: o caminho parece desimpedido.
Surpreende-me um abismo que detém o meu caminho.
Detenho-me.
É impossível saltá-lo.
Vejo que num dos lados há tábuas, pregos e ferramentas.

Dou-me conta de que estão ali para construir uma ponte.
Nunca fui habilidoso com as minhas mãos…
… penso em renunciar.


Olho para a meta que desejo… e resisto.
Começo a construir a ponte.
Passam horas, dias, meses.
A ponte está feita.
Emocionado, atravesso-a e ao chegar ao outro lado… descubro o muro.
Um gigantesco muro frio e úmido rodeia a cidade dos meus sonhos…
Sinto-me abatido…




Procuro a maneira de o evitar.
Não há forma.
Tenho de o escalar.
A cidade está tão perto…
Não deixarei que o muro impeça a minha passagem.
Proponho-me trepar.
Descanso uns minutos e tomo ar…





Rapidamente vejo, de um lado do caminho,
uma criança que olha para mim como se me conhecesse.
Sorri-me com cumplicidade.
Faz-me vir à memória como eu próprio era… quando criança.

Talvez por isso me atrevo a expressar em voz alta a minha queixa.
— Porquê tantos obstáculos entre o meu objetivo e eu?
A criança encolhe os ombros e responde-me.
— Porque me perguntas a mim?
Os obstáculos não existiam antes de tu chegares… Foste tu que trouxeste os obstáculos.

Jorge Bucay - Contos para pensar - Cascais, Editora Pergaminho, 2004


    

Jorge Bucay, Argentino, 1949, é um  psicoterapêuta, psicodramatista e escritor. Seus livros já venderam mais de 2 milhões de cópias em todo o mundo e foram traduzidos em mais de dezessete idiomas. Em 1973, graduou-se como médico da Universidade de Buenos Aires , e especializado em doenças mentais no Hospital Pirovano, Buenos Aires e na clínica Santa Mónica. Atualmente, ele define seu trabalho como ajudante profissional. Ele divide sua atenção entre assistir a conferências de ensino terapêutica, que o levaram ao redor do mundo, ea escrita dos seus livros, que ele considera ferramentas terapêuticas.

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“Não dependa de ninguém na sua vida, só de Deus, pois até mesmo sua sombra o abandonará quando você estiver na escuridão.”