“Parafilias são
preferências sexuais anormais e doentias, no sentido de bizarras a pervertidas,
que a pessoa ao longo da vida desenvolve de forma lenta e gradual. Para todos
há tratamento, ainda que não haja cura”.
Segundo o DSM-IV-R (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais), as parafilias
são caracterizadas por anseios, fantasias
ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos que envolvem objetos,
atividades ou situações incomuns e causam
sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social
ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo (Critério
B). Certas fantasias e comportamentos associados com Parafilias podem iniciar na infância ou nos primeiros anos da
adolescência, mas tornam-se mais definidos e elaborados durante a adolescência e início da idade adulta.
As características essenciais de uma parafilia
consistem de fantasias, anseios sexuais ou comportamentos recorrentes, intensos
e sexualmente excitantes, em geral envolvendo 1) objetos não-humanos; 2)
sofrimento ou humilhação, próprios ou do parceiro, ou 3) crianças ou outras
pessoas sem o seu consentimento, tudo isso ocorrendo durante um período mínimo
de 6 meses (Critério A).
As Parafilias aqui
descritas são condições especificamente identificadas por classificações
anteriores. Elas incluem Exibicionismo
(exposição dos genitais), Fetichismo
(uso de objetos inanimados), Frotteurismo
(tocar e esfregar-se em uma pessoa sem o seu consentimento), Pedofilia (foco em crianças
pré-púberes), Masoquismo Sexual (ser
humilhado ou sofrer), Sadismo Sexual
(infligir humilhação ou sofrimento), Fetichismo
Transvéstico (vestir-se com roupas do sexo oposto) e Voyeurismo (observar atividades sexuais).
Uma categoria residual,
Parafilia Sem Outra Especificação, inclui outras Parafilias encontradas com
menor frequência, tais como: Zoofilia
(prazer em relação sexual com animais), Urofilia
(excitação ao urinar no parceiro ou receber dele o jato urinário, ingerindo-o
ou não, Necrofilia (atração por ter
relações sexuais com cadáver), Coprofilia
(fetiche pela manipulação de fezes, próprias ou do parceiro). Não raro, os indivíduos têm mais de uma Parafilia.
Uma Parafilia deve ser diferenciada do uso não-patológico de fantasias sexuais, comportamentos ou objetos como estímulo para a excitação sexual em indivíduos sem Parafilia. Fantasias, comportamentos ou objetos são parafílicos apenas quando levam a sofrimento ou prejuízo clinicamente significativos (por ex., são obrigatórios, acarretam disfunção sexual, exigem a participação de indivíduos sem seu consentimento, trazem complicações legais, interferem nos relacionamentos sociais).
Em alguns indivíduos,
as fantasias ou estímulos parafílicos são obrigatórios para a excitação erótica
e sempre incluídos na atividade sexual. Em outros casos, as preferências
parafílicas ocorrem apenas episodicamente (por ex., talvez durante períodos de estresse), ao passo que em outros
momentos o indivíduo é capaz de funcionar sexualmente sem fantasias ou
estímulos parafílicos. Os comportamentos podem aumentar em resposta a
estressores psicossociais, em relação a outros transtornos mentais ou com o
aumento das oportunidades de envolvimento na Parafilia.
Sintomas depressivos podem desenvolver-se em indivíduos com Parafilias,
podendo acompanhar-se de um aumento da frequência e intensidade do comportamento
parafílico. Os indivíduos que não dispõem de um parceiro consensual com quem
possam atuar suas fantasias podem
recorrer aos serviços da prostituição ou atuar suas fantasias contra a vontade de suas vítimas. As ofensas sexuais contra crianças constituem
uma parcela significativa dos atos
sexuais criminosos, sendo que os indivíduos com Exibicionismo, Pedofilia e Voyeurismo perfazem a maioria dos
agressores sexuais presos.
Exceto pelo Masoquismo Sexual, em que a proporção entre os sexos está estimada em
20 homens para cada mulher, as demais Parafilias quase nunca são
diagnosticadas em mulheres, embora alguns casos tenham sido relatados. Esses
indivíduos raramente buscam auxílio por sua própria conta, geralmente chegando
à atenção dos profissionais de saúde mental apenas quando seu comportamento
provocou conflitos com parceiros sexuais
ou com a sociedade.
Os problemas
apresentados com maior frequência em clínicas especializadas no tratamento de
Parafilias são Pedofilia, Voyeurismo e
Exibicionismo. O Masoquismo Sexual e
o Sadismo Sexual são vistos com uma frequência muito menor.
Aproximadamente metade dos indivíduos com Parafilias vistos
em clínicas é casada. Eles podem
ver, ler, comprar ou colecionar seletivamente fotografias, filmes e textos que
enfocam seu tipo preferido de estímulo parafílico. Muitos indivíduos com
esses transtornos afirmam que o comportamento não lhes causa sofrimento e que
seu único problema é a disfunção sexual
resultante da reação de outras pessoas a seu comportamento. Outros relatam extrema culpa, vergonha e depressão
pela necessidade de se envolverem em uma atividade sexual incomum que é socialmente inaceitável ou que eles
próprios consideram imoral. Existe, frequentemente, um prejuízo da capacidade
de ter uma atividade sexual recíproca e afetuosa, podendo ocorrer Disfunções
Sexuais.
Embora as Parafilias
raramente sejam diagnosticadas em contextos clínicos gerais, o amplo mercado da pornografia e da parafernália
parafílica sugere que sua prevalência na comunidade tende a ser maior.