“O
grito do orgasmo é espontâneo, mas o orgasmo é elaborado.”
(Carlos Drummond de
Andrade)
“Eu
nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria
tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem
soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. Não estou aqui pra
que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.”
(Rachel de Queiroz)
“Se eu pudesse ser uma coisa durante um dia,
eu queria ser um orgasmo.”
(Chester
Bennington)
Orgasmo,
por que é tão difícil chegar lá?
Atingir o orgasmo
numa relação sexual não é privilégio de todas as mulheres. De acordo com
estudos da ProSex - Projeto de Sexualidade da USP, 50% das mulheres encontram
dificuldades para atingir o clímax da relação sexual.
E para algumas
mulheres sexualmente ativas, a penetração não costuma ser o melhor meio de se
atingir o orgasmo, por isso muitas delas acabam recorrendo ao sexo oral e à
masturbação. "O orgasmo por
penetração é uma questão de aprendizado da mulher", garante a
terapeuta sexual Sylvia Manzano.
A
falta de conhecimento do próprio corpo também pode dificultar o processo.
Por isso, a mulher não pode ter vergonha ou medo de se estimular, de se tocar e tocar os genitais (vagina, seios). "Muitas mulheres, por falta de conhecimento, acham que o orgasmo acontece sem o mínimo esforço - sem conhecer o seu corpo, sem explorar suas sensações - esperando que o parceiro lhe dê esse prazer", explica Sylvia.
A terapeuta não
descarta a possibilidade de o parceiro ter sua parcela de “culpa”. Ele pode
contribuir para que não ocorra um orgasmo vaginal. Por exemplo, um homem com
ejaculação precoce não dará tempo para que a mulher, que é mais lenta na excitação,
consiga atingir o clímax.
Questões
psicológicas
Sylvia conta que as
queixas sobre a dificuldade para atingir o orgasmo começaram a aparecer depois
que a mulher entendeu que ela tinha direito ao prazer e teve coragem de
reivindicar seus direitos. "Por isso, sabemos que várias delas não sabem o
que é ter um orgasmo", afirma.
Diferentes
fatores levam a mulher a não "chegar lá", e podem ser
tanto físicos como psicológicos. "Dos físicos destacamos o uso de
medicamentos para outras doenças, além de cirurgias e dores pélvicas", diz
a terapeuta. "Porém, a maior causa é psicológica: desconhecimento do
corpo, educação repressora, abusos ocorridos desde a infância, inadequação do
casal por brigas frequentes, ciúmes, cobranças, e assim vai", completa.
Mas Sylvia garante: "É muito difícil existir uma mulher anorgásmica, ou
seja, que não consegue ter orgasmo de forma alguma". Ufa!
Para mudar essa
situação, o ideal é procurar um terapeuta sexual. Ele poderá trabalhar os lados
intrapsíquico (cognições, crenças errôneas e limitantes) e interpsiquico (como
ela se relaciona com os outros). "Há um grande trabalho de psicoterapia
sexual, primeiro individual, depois com a parceria, para que a mulher se
permita sentir prazer", explica Sylvia.
A
falta de prazer
Apesar dessa
dificuldade, a terapeuta afirma que há mulheres que vivem muito bem desfrutando
do prazer da relação sexual com o parceiro, sem se importar em saber o que é
orgasmo. "Mas aquelas que o buscam e não o encontram, podem passar a se
"encolher" no sexo, ou seja, fazer com que o ato não seja importante
e até fugir dele, alegando dor de cabeça ou falta de tempo". O fato de a parceira
se preocupar apenas com o prazer do homem também pode não facilitar o orgasmo.
"Existe um grande mito de que os parceiros tenham que ter orgasmo simultaneamente. Não é assim. Ao fazer com que o outro tenha prazer, se excite e atinja o ponto alto da relação, a mulher se perde no caminho, não conseguindo “chegar lá” (gozar) também", explica.
"Existe um grande mito de que os parceiros tenham que ter orgasmo simultaneamente. Não é assim. Ao fazer com que o outro tenha prazer, se excite e atinja o ponto alto da relação, a mulher se perde no caminho, não conseguindo “chegar lá” (gozar) também", explica.
A dica é nunca fingir
um orgasmo, pois além de estar enganando o parceiro, você estará se enganando
também. Isso pode causar ansiedade na performance e angústia que desequilibram
o relacionamento, alerta Sylvia. "O que deveria ocorrer com os parceiros é
um diálogo franco de tudo que sentem", completa.
“Qualquer
mulher troca flores e poemas por orgasmos múltiplos. O amor é apenas um estado
febril mais ou menos transitório, mas o desejo existe, resiste, é bravio,
apega-se ao corpo.” [In: Diário dos Infiéis] - João Morgado